Já faz algum tempo que a A24 ganhou espaço e se tornou um dos estúdios mais respeitados de Hollywood! O que essa empresa criou não é pra qualquer selo que busca reconhecimento na indústria do cinema, já que a qualidade dos seus filmes são inquestionáveis, unindo público de massa e crítica especializada na maioria de suas obras. Então quando o estúdio anunciou a produção de O Cavaleiro Verde, um drama de fantasia inspirado nas lendas de Arthur, a reação foi de curiosidade, nervosismo, e acima de tudo, hype entre os fãs de longas independentes! Mas o que torna os títulos da A24 tão especiais?
Em razão de o estúdio apostar em obras originais e dar carta branca aos cineastas na hora de contar suas histórias, o tom dos filmes da empresa são muito menos comerciais e voltados para os problemas do ser-humano em todas as suas esferas, temas que são fáceis de gerar identificação no espectador. Até filmes de terror como Hereditário e O Farol ganham profundidade filosófica – apesar de suas alegorias sobrenaturais!
Portanto, o que poderíamos esperar de uma narrativa fantasiosa como O Cavaleiro Verde? De cara, as pessoas contaram que o filme não iria decepcionar na fotografia, já que o trailer revelou um vislumbre de sua competência estética, o que é um ponto fortíssimo nas produções da A24. Sendo assim, a grandiosidade do longa acabou que não estava nas batalhas épicas, espadas tiradas da pedra e roteiros que concedem uma vitória fácil para o protagonista – características a que assistimos de novo e de novo em filmes desse gênero. O diretor e roteirista David Lowery trabalha com questões realmente profundas em torno de seu protagonista, elemento que ele já tinha trabalhado em A Ghost Story.
O enredo gira em torno do jovem Gawain (Dev Patel), sobrinho de um rei, que está tentando entender alguns aspectos sobre a vida. Enquanto acompanhamos sua trajetória é perceptível que, apesar das criaturas fantásticas e místicas, o filme é, acima de tudo, sobre uma jornada pessoal. Quem você quer ser? Como você quer conduzir sua vida de acordo com os caminhos que você escolhe? É maravilhoso quando conseguimos entrar na pele de um personagem e entender seus conflitos.
O longa utiliza muito do simbolismo e da poesia para trazer à audiência questões que se encaixam em qualquer momento ou aspecto da vida. Ser parente de uma pessoa importante o torna o mesmo? Você deseja atender às expectativas dos outros? Na hora da verdade, você seria capaz de honrar com suas promessas?
Mesmo quando Gawain se depara com situações que podem facilitar sua jornada, ele pondera se aquilo é o correto a se fazer. Sem entregar muito sobre o enredo, ele tem muita ajuda, assim como dificuldades. Porém, apesar do ritmo lento em que a história é conduzida, são visíveis as lutas pessoais do aspirante a cavaleiro. Você pensa em frases motivacionais e reflete sobre a vida. No fim do filme, provavelmente você não vai saber como se sentiu, já que ele toca em pontos muito específicos do espectador. Por isso, é uma obra na qual se deve entrar de cabeça para enfim entender sobre o que ela realmente se trata.
Dito isso, é capaz de O Cavaleiro Verde não ser um filme do qual todos irão gostar e muitos deverão sair decepcionados da experiência porque não teve “ação” o suficiente, mas é definitivamente um filme que vale a pena ser visto.
O elenco está equilibrado e conduz as cenas de forma que você fica intrigado sobre quem eles são, mesmo que tenham pouco tempo de tela. Pessoalmente, eu veria um filme retratando a vida de cada uma daquelas pessoas. Mas o destaque pertence mesmo a Dev Patel, que não tem nenhuma dificuldade em mostrar os conflitos, medos, vitórias e apatia de Gawain. Ele mostra que é um ator digno de conquistar um espaço de respeito dentro de Hollywood. Sendo assim, tenho esperanças de que o filme o coloque no radar de outros diretores e roteiristas brilhantes.
Para finalizar, recomendo que vocês leiam o conto original Sir Gawain e o Cavaleiro Verde. Sendo uma fã dos contos de Arthur, fiquei curiosíssima para conhecer outros aspectos da história assim que os créditos subiram. Tenho certeza que vou conferir a versão que inspirou esse longa!
