O que dizer de um filme de Halloween sem Michael Myers? Necessariamente ruim? Vamos discutir sobre isso e talvez minha crítica surpreenda um ou outro leitor.
Halloween 3: A Noite das Bruxas começa a se afastar dos filmes anteriores da franquia já nos créditos iniciais em que, rompendo com o tradicional zoom-in em uma abóbora de dia das bruxas, vemos uma sequência virtual onde a abóbora dessa vez é digital – a trilha sonora sombria já dita um tom mais sinistro à produção e ao sairmos desse segmento inicial, escutamos pela primeira vez a trilha clássica de John Carpenter; mas dessa vez, é uma versão mais diferente, manipulada e eletrônica, diferenciando-se da composição minimalista presente no original.
É preciso reconhecer a coragem dos realizadores de tentar criar um filme sem o serial killer que havia se tornado parte essencial da marca – porém, muitas vezes o que difere o gênio do louco é o resultado e, nesse caso, o resultado foi negativo.
Esse longa-metragem, apesar de ter momentos assustadores, é muito mais um filme investigativo sci-fi, do que de terror de fato. Como notou meu amigo Rafael Jacinto, trata-se quase de uma prévia temática para o que seria feito em They Live (1998).
Parte da rejeição estrondosa por este recebida aconteceu pela quebra de expectativa do público (e da crítica), que chegaram esperando por mais caças a Myers na noite de Halloween e acabaram encontrando uma investigação de um médico sobre uma empresa de fantasias nos dias que antecedem à celebração.
Porém, apesar de ter suas falhas (no roteiro especialmente), a obra não é efetivamente tão ruim; só teve uma reação negativa em tal intensidade por não cumprir o que seus espectadores queriam. Daí venho com meu argumento: o nome Halloween foi uma maldição em mão dupla, tanto para o filme, quanto para a saga.
Se essa película fosse nomeada Season of the Witch, provavelmente não seria tão mal recebida – mas o fato é que até mesmo essa especulação é questionável, já que o próprio longa (possivelmente) teria sido esquecido se não fizesse parte dessa que é uma das franquias mais prolíficas da história do terror.
Após uma série de mortes violentas em seu hospital, um médico (Tom Atkins) se une à filha de um dos falecidos (Stacey Nelkin) para investigar uma indústria de máscaras de Halloween, já que ambos desconfiam que ela poderia estar por trás dos ataques.
Algo interessante é o fato de que, apesar de não ser uma película efetivamente de terror – dando espaço à investigação já mencionada – é aqui onde os produtores finalmente abraçam com carinho o gore. Temos cabeças decapitadas, insetos saindo de dentro de humanos, rostos incinerados, tudo que um bom fã desse estilo pode pedir.
A direção de Tommy Lee Wallace e a montagem produzem um arroz com feijão bem temperado que não fede nem cheira, conseguindo imergir o público na narrativa sem criar nada excepcionalmente especial do ponto de vista formal.
O filme faz crítica ao sistema de produção fordista e industrialização em massa, além de não tão implicitamente falar sobre o poder de manipulação dos meios de comunicação. (Se você não saiu cantarolando ‘Happy Happy Halloween, Halloween, Halloween; Happy Happy Halloween, Silver Shamrock’ você é minoria).
Não posso dar meu parecer sobre essa obra sem mencionar a interpretação sensacional de Dan O’Herlihy como vilão. Apesar de só receber quantidade significativa de tempo de tela no último ato do filme, é impossível refletir sobre esse longa sem pensar no personagem dele – brilhante.
Minha principal crítica ao filme, no entanto, é em relação ao desenvolvimento ruim do roteiro, com incongruências, erros de continuidade, e falas de pouquíssima qualidade (digamos assim). Desperdiça-se parte do excelente plot criado com uma investigação em que os protagonistas são os únicos seres minimamente inteligentes – o que dizer daquela família na fábrica da Silver Shamrock?
Amaldiçoado pelo sucesso (e expectativas) trazidas por seu nome, Halloween 3: A Noite das Bruxas foi um exercício de coragem (ou loucura) dos produtores. Não é um filme perfeito, com falhas no polimento da narrativa e conclusão, mas que, apesar disso, é capaz de divertir e entreter o espectador que busca por um terror que surpreende, assusta e distrai.
O final aberto me agrada, apesar de chatear alguns próximos a mim. E você? Acha que o Dr. Dan Challis impediu que o mundo acabasse?