Crítica de filme

Crítica | ‘Spencer’ revela a claustrofobia de contos de fadas vivida por Lady Di

A intenção dessa biografia não era mostrar a veracidade da história de Diana, mas sim, suas angústias internas e a tempestade emocional que era viver no meio da família real.

Lainara Araújo

11/01/2022 •

10:01 •

Desde que foi anunciado, Spencer gerou uma grande revolta no público. Diana Spencer foi uma das figuras mais importantes da história contemporânea e ainda permanece atemporal, ícone de força, simpatia, humanismo, moda e acima de tudo, sofrimento. Por isso, quando foi divulgado que Kristen Stewart iria interpretar a princesa do povo, o que mais se viu foi repulsa, já que havia dúvidas de sobra sobre a capacidade da atriz de dar conta de transmitir todo o sentimento e empatia de Diana.

Mas ainda bem que bons atores não se abalam, pois quando o momento chega, é um triunfo ver o silêncio ensurdecedor de todo o burburinho, fofocas e dúvidas. É como se o telespectador sentisse um forte e ressonante tapa na cara. No entanto, falaremos sobre isso com profundidade mais adiante, antes é preciso entender seu contexto.

No começo dos anos 90, durante a época de Natal, a realeza britânica vai até a propriedade de Sandringham em Norfolk, Inglaterra, para comemorar a data. Diana Spencer luta com problemas de saúde mental, tradições monárquicas e a pressão constante da mídia. Além disso, seu casamento está afundando, e a única forma de se libertar é terminando seu relacionamento de uma década com o príncipe Charles (Jack Farthing).

O que há mais de Diana que não foi dito? Acredito que a intenção dessa biografia não era mostrar acontecimentos verídicos, mesmo porque o mundo se banqueteia da vida de Diana até hoje. Diversos documentários, um seriado e até um musical da Broadway foram produzidos sobre ela, o que mostra que não há limites para a espetacularização em torno de sua vida.

Spencer é um projeto midiático? Sim. Mas em momento nenhum ele tira proveito de Diana! O texto de Steven Knight é brilhante ao retratar uma fábula, pois quem conhece a história da família real, vai olhar para o filme e pensar: 

“Ahhh! Mas isso nunca iria acontecer!”

“Diana nunca agiria dessa forma!”

“Diana dirigindo sozinha sem ser seguida pela imprensa? Falta de realismo”. 

De fato, é falta de realismo, mas é aí que está a genialidade do projeto. Desde o começo, Knight deixou claro que o filme seria mais intimista e não um retrato da vida de Diana. Aqui tivemos acesso às suas angústias internas, a tempestade emocional que era viver no meio da família real, e talvez, um desejo latente de tomar determinadas atitudes mais cedo em sua vida, como se impor às tradições e ir atrás da própria felicidade. Mas uma coisa é certa, a realeza pode ter roubado a vida de Diana, mas eles nunca roubaram a sua identidade! 

Sua primeira aparição a mostra perdida, dirigindo sem rumo, mesmo conhecendo muito bem aquela região, mas ao longo da história percebe-se que cada atitude, cada expressão ou troca de olhares pode significar um recorte da jornada que essa mulher enfrentou. Tudo em Spencer é uma alegoria, e mesmo que algumas mensagens sejam reforçadas até demais, questiona-se qual o real significado por trás daquilo. O tempo todo há uma submersão nessa aura constante de mistério e o horror surreal de uma pessoa atormentada pelo fardo do passado, do presente e do futuro. A trilha sonora é um personagem que narra o interior de Diana e todos os seus surtos. 

Agora você entende porque Kristen foi a melhor escolha para esse papel? Se tem uma coisa que ela sabe fazer é ficar desconfortável na própria pele, mas essa não é qualquer pele, é a pele de Diana Spencer. Uma pessoa com trejeitos tão característicos, uma personalidade tão dela! Dona de uma timidez adorável, mas que ao mesmo tempo que não tinha medo de afrontar tudo e todos, e sempre com movimentos recatados, dando a impressão de que era feita de porcelana. Uma baita dificuldade para uma atriz com a reputação de Stewart.

E para você que ainda insiste em afirmar que Stewart continua inexpressiva e não entregou grande coisa nesse projeto, assista aos vídeos da princesa e em seguida dê o play em Spencer. É indiscutível que no aspecto vocal e corporal, ela entregou sua personagem. A gagueira de Bella Swan é inexistente aqui, sendo que ela fala tão eloquentemente quanto Lady Di. 

Antes de se aventurar na obra, no entanto, saiba que Spencer não conta uma história, ele não precisa disso. O filme só precisa mostrar um período, sem espetacularização. Basta você saber que houve uma dor, mas também houve uma escolha.

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Nota do(a) autor(a)

5/5
Spencer Poster

2021

117 min min

País: EUA

Elenco: Kristen Stewart, Timothy Spall, Sally Hawkins, Jack Farthing

Idioma: Inglês

Nota do(a) autor(a)

5/5
Spencer Poster

2021

117 min min

País: EUA

Elenco: Kristen Stewart, Timothy Spall, Sally Hawkins, Jack Farthing

Idioma: Inglês