Águas Profundas, novo drama da Prime Video dirigido por Adrian Lyne e estrelado por Ben Affleck e Ana de Armas, conta a história de um casal que mantém uma relação atípica – Melinda (de Armas) mantém relações extraconjugais com outros homens e seu marido milionário, Vic (Affleck), não se importa com isso. Tudo parece muito bem, mas logo no início do filme, fica claro que talvez o personagem de Ben Affleck não seja tão flexível assim…
A intensa e intrigante cena de abertura – em que Vic chega em casa e sua mulher o observa se despindo com lágrimas nos olhos – já nos revela que algo naquele relacionamento não é tão tranquilo. As nuances sobre traição e liberdade dentro de um relacionamento entram em contraste com as inúmeras teorias sobre relacionamentos abusivos e nos fazem questionar sobre o que realmente acontece com o casal.
E assim a trama caminha para alimentar a nossa curiosidade – a introdução de uma informação cria o mistério que nos faz ficar ainda mais ansiosos pela estória: um dos “amantes” de Melinda desapareceu em circunstâncias desconhecidas. A maneira fria e a serenidade com que Vic nos oferece essa indicação informa que talvez haja algo não muito bem acordado entre os dois.
No entanto, o que foi um ponto de largada bem definido e interessante começa a se perder com a queda da intensidade à medida que as revelações vão sendo feitas e, por isso, o filme não caminha para direção alguma.
Além disso, o longa não pareceu concretizar sua aposta de thriller mais erótico e intrigante como mostraram suas chamadas de destaque e o trailer. As cenas mais ousadas não surtem efeito algum, são rasas e não servem nem para adicionar camadas aos personagens, muito menos revelam algo mais obscuro ou sensual.
Quanto às atuações, Affleck beira ao padrão de outros filmes de mesmo gênero nos quais atuou, como o competente Garota Exemplar ou O Contador. Entretanto, ressalta-se que a atuação de Ana de Armas entrega uma Melinda de fortes emoções e personalidade marcante, mesmo sem o amparo de uma estrutura de roteiro que agregasse algo em sua personagem, como merecia. Infelizmente ela é desperdiçada em uma trama que também mal sustenta os interessantes personagens secundários, sujeitando-os quase a uma atuação de meros figurantes.
Apesar de remeter a alguns thrillers dos anos 90, Águas Profundas não consegue estruturar os conflitos que propõe e o roteiro não consegue escolher um caminho concreto para seguir: questões de relacionamento, uma misteriosa rede de mentiras, um casal psicótico ou a vida de um psicopata? Não há como saber, mas o filme já se revela muito cedo deixando a trama desinteressante e pouco intrigante. Como já mencionado, o longa nem aposta em um jogo mais sensual de intrigas, nem se aprofunda em um thriller psicológico mais intenso.
No fim, Águas Profundas não tem nada a acrescentar e o que sobre é apenas mais do mesmo, um filme médio de poucas camadas. Depois de uma hora, a obra, que tinha pleno potencial, se torna cansativa e tediosa, desperdiçando o ouro que poderia gerar se tivesse sido bem desenvolvida.