Crítica de filme

Crítica | A Felicidade das Pequenas Coisas

Publicado 3 anos atrás
Nota do(a) autor(a): 3,3

O professor Ugyen Dorji, de 20 e poucos anos, sonha em se mudar para a Austrália e ser um cantor famoso. Em seu último ano de contrato com o governo, ele é mandado para Lunana, onde deve assumir uma escola infantil.

Esse é o tipo de narrativa de transformação pessoal que todos nós já vimos um milhão de vezes, mas com o componente de ser de um país que ainda não havia furado a bolha no cinema internacional. A Felicidade das Pequenas Coisas já foi claramente construído pensando na exportação e não no consumo interno, conclusão fácil de se chegar quando observamos a irrupção aleatória de diálogos em inglês, ou o detalhe do título aparecer na tela em butânes (ou dzonga) e em inglês – bem como todo o marketing envolvendo o longa de Pawo Choyning Dorji.

Claro que hoje podemos considerar a estratégia um sucesso, já que este é o primeiro filme da história de Butão a concorrer ao Oscar e apenas o segundo a ser inscrito (o primeiro foi A Copa, de Khyentse Norbu Rimpoche – disponível no Belas Artes à La Carte no momento em que o público lê esta crítica).

Mas no fim, Lunana (chamarei a obra assim a partir de agora por ser muito mais fácil que o título dado no Brasil) é a típica história da pessoa que se afasta da turbulenta e cotidiana vida na cidade para se aventurar – normalmente porque é obrigada – em um lugar remoto, para aí descobrir “a felicidade das pequenas coisas” . Sim, você provavelmente já pensou em inúmeros filmes com essa premissa; no meu caso o que vem imediatamente é Klaus (2019), animação deliciosa da Netflix.

Todavia, uma coisa que me chamou atenção foram alguns cuidados nos detalhes que realmente são chamativos: o uso de headphones que o protagonista faz no começo da história mostram um pouco o quão deslocado ele está – ou seja, querendo estar com a cabeça em outro lugar. Em algum momento da subida, a bateria do aparelho acaba, algo um tanto quanto simbólico: a sociedade que ele está acostumado é o da obsolescência programada, em que é preciso estar sempre em busca de renovação, de “recarregar” nesse caso. É só a partir daquele momento, depois de quase meia hora de filme, que ele começa a se deixar entregar ao ambiente que o circunda. 

Por fim, A Felicidade das Pequenas Coisas não inova, mas agrada. Os cenários são marcantes, mas pouco explorados. As atuações são comoventes por serem tão sinceras quanto uma criança pode ser. A direção é contida, sem muita inventividade, mas capaz de imergir o espectador que se permite embarcar nessa jornada. Não é exatamente notável, mas é um mediano bem feito. Um arroz com feijão bem temperado que mata a fome. 

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A Felicidade das Pequenas Coisas
País: Butão
Direção: Pawo Choyning Dorji
Roteiro: Pawo Choyning Dorji
Idioma: Dzongkha

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