É sempre difícil para mim sequer pensar em Animais Fantásticos, quanto mais escrever sobre os filmes já produzidos. Se Harry Potter é minha paixão, esta franquia baseada em um catálogo (interessante e informativo enquanto livro, mas frustrante enquanto filme), nunca me desceu muito bem. De todos os spin-offs que a saga poderia ter gerado para expandir esse universo incrível, pensar que foi este que escolheram realizar causa imensa tristeza.
Nessa ordem de ideias, lembro sempre do primeiro prequel anunciado de Game of Thrones, cancelado antes mesmo de ganhar um nome oficial. Ele se passaria 10.000 anos antes da saga original e seria centrado nas criaturas conhecidas como os Outros, um mote (mais uma vez!) tão flagrantemente frustrante para os fãs que o projeto não foi para a frente. Em vez disso, foi produzida outra obra focada nos Targaryen, House of The Dragon, que será lançada em julho.
E no entanto, Animais Fantásticos obviamente possui seus fãs, já que estamos em seu terceiro longa, com mais dois em vista no futuro. Este fato por si só mostra que a franquia carrega sim algo de bom – como o fato de sair da Inglaterra e mostrar que os magos estão espalhados por todo o mundo -, embora tenha para mim que o seu sucesso se deva muito mais pelo fato de nos ter feito retornar para o fantástico mundo dos bruxos do que por qualquer outra coisa.
Todavia, antes de mais nada, é preciso reconhecer que não há dúvida quanto ao fato de que Os Segredos de Dumbledore é de longe o melhor filme da saga, fato que provavelmente se deve em grande parte à volta do roteirista original de Harry Potter, Steve Kloves, que ajudou J.K. Rowling na tarefa de escrever a película, superior às anteriores em todos os sentidos.
Na estória as aventuras de Newt Scamander (Eddie Redmayne) continuam quando ele, Dumbledore (Jude Law) e companhia tentam impedir Gerardo Grindelwald (Mads Mikkelsen), absolvido de todos os seus crimes, de vencer a acirrada disputa do cargo de líder da comunidade internacional de bruxos.
Sendo assim, por trás de uma belíssima fotografia que se utiliza de uma paleta de cores mais escura, o longa mergulha em uma trama sombria que evoca muito a época do nazismo enquanto viajamos para Berlim para assistir à ascensão de Grindelwald e suas ideias de superioridade de raça.
Mais coeso no roteiro, Os Segredos de Dumbledore depende muito menos das firulas e efeitos especiais para se firmar, trabalhando de forma significativamente melhor seus personagens e a estória em si. Para nós, brasileiros, a grande novidade está na presença de Maria Fernanda Cândido no elenco, interpretando a poderosa bruxa Vicência Santos. Notável como sempre, a atriz destila elegância e beleza, mesmo no pouquíssimo tempo de tela que tem. Mads Mikkelsen substitui Johnny Depp com seu brilhantismo habitual, mesmo que a mudança do ator – que já tinha colocado sua marca em Grindelwald – cause certa estranheza, independente dos motivos que levaram ao seu afastamento.
Contudo, mesmo que a melhora com Os Segredos de Dumbledore seja muito bem-vinda, mesmo que o filme seja visualmente lindo, tenha uma baita de uma trilha sonora e o elenco seja de primeira, Animais Fantásticos continua sendo, por falta de expressão melhor, uma franquia chata.