Não adianta. Desde que 50 Tons de Cinza se tornou uma febre acidental, abriu-se uma nova porta para a indústria do cinema: o pornô socialmente aceitável para mulheres. Mesmo com uma premissa polêmica (para dizer no mínimo!), 365 Dias ganhou uma sequência, que apesar de não solicitada pelo público, continua gerando engajamento. Talvez seja por isso que a Netflix continue injetando cada vez mais dinheiro nesse tipo de projeto, incluindo a série hot Sex/Life, porque afinal de contas, sexo vende!
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É frustrante pensar que existe um público numeroso para consumir esses projetos, fato que mostra a liberdade que a indústria do cinema tem para aprovar um enredo pobre como 365 Dias: Hoje. O grande problema aqui nem é o tema sexual – longe de mim condenar um filme que explora uma parte tão essencial do ser humano! -, o problema é que é tudo 100% gratuito.
Vejamos, então. Aos 2 minutos e 28 segundos a trama já entrega o que o público quer: uma cena sensual entre os protagonistas completamente jogada, obviamente ignorando as consequências do desfecho do primeiro filme. (Quando eu digo que não tem nada pra falar sobre esse projeto não é exagero.)
Mas além disso, o público é completamente privado de diálogos e desenvolvimento de enredo (e quando tem algum, é o auge do auge do clichê), uma vez que os diretores Barbara Bialowas e Tomasz Mandes estão muito ocupados investindo em cenários panorâmicos e uma trilha sonora contínua. Até existem cenas em que os personagens estão lá, interagindo; contudo, a coisa parece um longo comercial de empresa de turismo – as pessoas só mexem a boca fingindo uma conversa enquanto um pop house Europeu é executado (É chocante, portanto, que tenham sido necessários três roteiristas para desenvolver 365 Dias: Hoje, já que parece que nenhum deles teve trabalho algum…).
Uma estória é contada, mas ela simplesmente não aparece e o tempo inteiro fica as questões: como aqueles personagens chegaram até ali? Que negócios Massimo (Michele Morrone) afirma com tanta confiança que está conduzindo, mas em nenhum momento é explicado? Que dia é hoje? Onde eles estão? Perguntas básicas em qualquer obra cinematográfica, mas que aqui pouco se esclarecem. Esses questionamentos se dissolvem em meio a cenas explícitas de sexo que cansam qualquer genitália. O primeiro filme era de gosto questionável? Sim, mas pelo menos tinha um certo dinamismo, dava pra ficar entretido em algum momento, mesmo que fosse na vergonha alheia. Aqui, por outro lado, a produção está mais preocupada em deixar o filme bonito, abusando do slow motion, causando um tédio inevitável.
E não acabo por aqui. Além disso, nenhuma atuação é tolerável. O breve carisma que Anna Maria Sieklucka conseguiu no primeiro filme simplesmente desapareceu nessa sequência. Já Michele Morrone se vê em situações em que seu personagem deveria apresentar uma dualidade, mas o que chega até nós é um ex-drogado em abstinência, com uma performance totalmente caricata – eu não levaria o “mafioso” dele a sério nem se ele colocasse uma arma na minha testa. E quando finalmente chega o momento do grande clímax, você não dá a mínima para o bem estar dos personagens envolvidos, porque você não criou qualquer relação com eles.
Sendo assim, como nossa paciência testada, o que nos resta, como público, é ver e reconhecer até onde o nível dessas produções pode chegar: o fundo do poço.