Os Rejeitados acompanha um professor mal-humorado que, inicialmente, é forçado a permanecer em um colégio interno em New England para cuidar de um grupo de alunos que não tem para onde ir durante as férias de Natal.
Quando quatro destes alunos são levados por um dos pais deles para aproveitar o recesso, o professor Hunham (Paul Giamatti) precisa ficar de babá do único garoto remanescente, Angus Tully (Dominic Sessa) – um aluno encrenqueiro, magoado e muito inteligente. Acompanhados da cozinheira-chefe da escola – que acaba de perder um filho no Vietnã, os três são obrigados a aceitar a solidão que a época traz e, junto dela, situações de conflito e dramas internos. Porém um vínculo improvável nasce entre eles.
Ao ler a sinopse e assistir ao trailer do longa, a impressão que fica é de familiaridade, como se o espectador já tivesse visto o filme na sessão da tarde. Para mim, a primeira referência que veio à mente foi O Clube dos Cinco, em que um grupo de adolescentes passa um dia na detenção do colégio em meados dos anos 80. Mas o que me atraiu na obra de Alexander Payne foi a ambientação natalina e a fotografia. A produção traz uma estética específica que transporta o espectador direto para uma época mais simples e desprovida dos recursos tecnológicos, mas que é igualmente complicada. Todo mundo acha que conhece essa história, mas ela é mais do que um sentimento de déjà vu.
É aquela descoberta satisfatória, que causa um sentimento de preenchimento tão grande que a vontade é de sair por aí panfletando o filme para todos os amigos e inimigos! E por mais que você tente, o filme nunca será aclamado da forma que merece. E por que digo isso? Enredos que têm um ritmo devagar e exploram a construção de relacionamentos humanos com simplicidade não têm o apelo comercial a que estamos acostumados.
Isso porque não dá pra divulgar um filme como este para o público de massa e esperar uma bilheteria milionária no fim de semana de estreia. A obra veio para ganhar simpatia ao longo dos anos e eventualmente virar um clássico atemporal que te pega desprevenido e deixa um sorriso no rosto e uma lágrima na bochecha enquanto os créditos rolam.
Os Rejeitados poderia facilmente ganhar o Oscar de melhor filme em 2024, porém, as pessoas não entenderiam o motivo, já que esperam a vitória de uma obra mais popularizada como Oppenheimer, ou aclamada pela crítica como Pobres Criaturas. Mas o mínimo de pesquisa sobre o diretor vai revelar seus méritos, não apenas aqui, mas na filmografia e indicações passadas. E quem for mais além para analisar as entrelinhas que contemplam a história de um simples colégio interno habitado por três pessoas na época de Natal, vai abrir os olhos para toda a sensibilidade que foi trabalhada no roteiro e nas atuações.
Da´Vine Joy Randolph mostrou a força de sua personagem, pois sua interpretação da cozinheira-chefe Mary lhe garantiu o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante no último domingo (07). Paul Giamatti também levou pra casa o prêmio de melhor ator em filme de musical ou comédia. Só o estreante Dominic Sessa que ficou de fora das indicações, mas é uma escolha estratégica, já que seu personagem também pode ser considerado um protagonista e o veterano tem uma força maior para garantir prêmios na temporada.
De qualquer forma, Dominic não deve passar despercebido aos olhos de Hollywood. Sua interpretação foi cativante e com conflitos bem estabelecidos durante a história, temos o privilégio de acompanhar a evolução de um adolescente irritante e rebelde para um garoto cheio de potencial, medos e consciência de suas limitações. Coube ao seu professor mostrar-lhe outras alternativas de vida, e que sempre há outra forma de conduzir sua trajetória.
Paul Hunham aprendeu as mesmas lições, mas não as colocava em prática, já que seu cinismo e severidade o impedia de evoluir na carreira e conquistar a simpatia de seus colegas e alunos. Paul Giamatti foi gigante nesse projeto e foi de mansinho que apareceu nas listas de indicações, um papel que merece destaque na sua carreira com toda certeza!
Além disso, a trilha sonora ganha um papel importante no projeto, já que é apresentada uma curadoria de músicas dos anos 70 e atuais, como Silver Joy de Damien Jurado, que mais parece ser daquela época ou criada especialmente para o filme – mas é de 2014.
Por fim, a experiência de Os Rejeitados desperta uma sensação de isolamento que todos enfrentamos em alguma etapa. Um isolamento que pode estar atrelado ao luto, ao comodismo, à saudade, e pode ser tão intenso a ponto de tirar a esperança de mudar nossas vidas para sair de um lugar familiar e previsível, apesar de termos consciência das nossas limitações. Entretanto, nessa pequena jornada chamada vida, encontramos pessoas e lugares que causam o impacto necessário para despertar um senso de esperança, camaradagem e perspectivas. É mais do que um filme de Natal, é um acalento para o espírito cansado.