Crítica de filme

Garra de Ferro

Publicado 9 meses atrás
Nota do(a) autor(a): 4,2

Adaptações reais sempre serão uma faca de dois gumes, pois se os idealizadores falharem, serão uma tremenda falta de respeito com os envolvidos, mas se forem bem sucedidas, vão contextualizar a história para pessoas como eu – que vão desbravar a internet para saber cada detalhe sobre a vida daquelas pessoas que inspiraram a obra -, e honrar a família, amigos e a audiência que conhece o caso ou viveu naquela época. 

Garra de Ferro narra as lutas, as alegrias e os dramas dos inseparáveis irmãos Von Erich. Treinados pelo seu pai, Fritz Von Erich (Holt McCallany), a família foi pioneira ao fazer história no mundo intensamente competitivo do wrestling profissional no início da década de 1980. Mas o preço para se tornarem lendas foi alto! 

Assim, na minha pesquisa superficial, pude notar que os irmãos Von Erich são praticamente uma instituição no mundo da luta livre nos EUA, já que foram um dos pilares do esporte que entretém milhões e geram estrelas de cinema como The Rock e John Cena. Antes disso, minha referência sobre o esporte era mínima, e o único filme que eu assisti sobre o tema, foi Fighting With My Family, que é curiosamente outra adaptação de uma família de lutadores da Inglaterra, uma comédia de 2019 estrelada por Florence Pugh que adapta a origem de Paige (Saraya Bevis) no mundo do wrestling norte-americano. O filme é bem leve e divertido, mas não exclui as dificuldades que uma pessoa enfrenta para seguir carreira no esporte. 

E esse é um dos elementos mais importantes que foram destacados no filme de  Sean Durkin. Um leigo pensa que o wrestling é pura falsidade, mas só porque o esporte é teatralizado, com rixas prévias, insultos no ringue e figurinos exagerados que não implicam um investimento sério, físico ou mental. E vou confessar que fui atrás de outras críticas de apoio para construir minha análise.

Ao fim da sessão eu estava chorando tão intensamente que não conseguia formar uma opinião lógica e separar os atos do filme. Uma sequência de desgraças atinge a família Von Erich durante as 2 horas e 22 minutos de filme, e depois de cada uma eu ficava pensando: não é possível, gente. É muito azar! Junto com os personagens construímos uma obstinação coletiva para continuar lutando apesar das dificuldades. A experiência como público é inacreditável: vivencia-se junto com o protagonista o sentimento de “levanta a cabeça e segue em frente” até o momento em que o irmão mais velho, Kevin (Zac Efron), quebra e começa a se permitir sentir toda aquela dor acumulada. E junto com ele, a gente sofre.

Vale destacar muitas qualidades no filme em si, o design de produção que soube transmitir a importância das federações em territórios no auge da NWA, a ambientação dos anos 80, tanto no figurino quanto na fotografia, trilha sonora e, principalmente, na escalação do elenco. Zac Efron foi uma das gratas ascensões de artistas juvenis que nossa geração conseguiu acompanhar de perto. Tal como a novela Malhação, a Disney foi uma incubadora de muitos talentos em Hollywood.  

Embora Kevin seja o protagonista, seus irmãos tiveram espaço para brilhar, cada um no seu espaço e no seu auge, e mesmo que algumas passagens de tempo tenham sido mais apressadas, em momento nenhum nos perdemos na narrativa. Garra de Ferro foi uma das biografias mais delicadas e cuidadosas a que eu já assisti. Ainda quero pesquisar mais sobre a maldição dos Von Erich e as origens da luta livre. Lá atrás o esporte já me despertou uma coceirinha para acompanhar, mas depois de Garra de Ferro, quero correr atrás dessas transmissões.

Spoiler a frente!

Pesquisando sobre a história, notei que um membro importante da família não foi incluído na adaptação, e questionado sobre isso, o diretor/roteirista afirma que o filme não conseguiria lidar com mais uma tragédia. Isso martelou na minha cabeça que nem a pressão da Garra de Ferro – golpe assinatura da família. E mesmo sendo quase que um desrespeito, eu entendo e ainda digo que a solução para o problema tem duas palavras ‘série limitada’, o projeto ganharia uma dimensão muito maior, e ao contrário da esnobação que recebeu nesta temporada de premiações, iria levar pra casa todos os Emmy’s e Globos de Ouro, especialmente tendo o selo da A24, um dos estúdios mais prestigiados da indústria. Tal escolha iria diluir as mortes em um ritmo mais lento para o público.

Fim do spoiler

Para concluir, os fãs do wrestling vão ficar muito satisfeitos ao acompanhar a nova releitura sobre a família Von Erich., porque mais do que contar uma história trágica, o Garra de Ferro ensina o valor do cuidado, as consequências da negligência parental no psicológico dos filhos e, principalmente, do amor entre irmãos.

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garra de ferro poster
País: EUA
Direção: Sean Durkin
Roteiro: Sean Durkin
Idioma: Inglês

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