Crítica de filme

Morto Não Fala

Publicado 5 anos atrás

Não é fácil produzir terror. Esse estilo de narrativa é muito abstrato, fluido, de difícil delimitação e, porque não dizer, pessoal – o que dá medo em uma pessoa, não necessariamente assustará a outra. Mas ‘Morto Não Fala’ mostrou que o Brasil está fazendo um cinema de gênero bem direitinho – principalmente quando falamos de horror.

Depois da série ‘Supermax’ (que não teve uma boa recepção do público, mas me agradou bastante), do qual foi roteirista, Dennison Ramalho está de volta, dessa vez como diretor, com uma história bem impactante.

Baseado nos contos de terror de Marco de Castro, ‘Morto Não Fala’ está longe de só querer causar reações físicas no espectador, mas dialoga com questões sociais e de relacionamento no ambiente periférico – como o tráfico de drogas, crimes passionais e religião evangélica.

Assim, numa atuação impecável, Daniel de Oliveira é Stênio, um funcionário do IML que possui a estranha capacidade de falar com os mortos. Através de cadáveres, ele fica sabendo de informações e segredos que melhor seria tivessem sido enterrados junto com seu detentor.

morto não fala stênio e um cadáver

 

Essas relações mórbidas o acabam afastando de sua família e levando sua mulher, Odete (Fabíula Nascimento), ao adultério. Mesmo assim, é com Stênio que o público acaba desenvolvendo maior empatia, enquanto Odete é retratada como a típica megera. Sem dúvida, é ela que traz a principal questão do filme, já que seu rancor pelo egoísmo do marido (que trabalhava à noite e dormia durante o dia) perdurou até depois da morte, afetando muito os filhos do casal e a doce Lara (Bianca Comparato).

morto não fala stênio e odete

 

A fantasia também tem seu lugar em ‘Morto Não Fala’, como não podia deixar de ser. A mistura digital feita no rosto dos cadáveres quando falam é bizarra, mas por incrível que pareça, casa muito bem com o clima do filme que, com tons esmaecidos e mais escuros, também tem muito de membros decepados, entranhas e coisas podres. O som também faz seu papel, dando um efeito etéreo bem interessante à voz dos mortos. A sensação é de coisa que vem do além mesmo.

E assim, cheio de cenas aflitivas, temas underground e um final muito aberto que decepciona, ‘Morto Não Fala’ não chega a ser o melhor filme de terror, mas tem seus pontos positivos, como as belíssimas atuações do trio principal – Daniel de Oliveira, Bianca Comparato e Fabíula Nascimento (destaque para esta última, já que estamos mais acostumados a vê-la na comédia) – e a competente mistura do real com a fantasia, sob o filtro do horror.

Poderia ter sido bem melhor, mas o longa de Ramalho está com certeza, acima da média no que toca o cinema nacional e, quanto a isso, nós só podemos comemorar.

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morto não fala poster
País: Brasil
Idioma: Português

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