Alexandre Aja entrega o melhor filme envolvendo animais selvagens desde ‘Tubarão’
A simplicidade é, decerto, a característica que mais chama a atenção em Predadores Assassinos (Crawl), longa da Paramount Pictures dirigido pelo diretor Alexandre Aja. Há simplicidade no elenco (que se resume basicamente a dois atores muito competentes), no roteiro de Michael Rasmussen e Shawn Rasmussen (que não possui nada de excepcional) e na locação de filmagem (que é praticamente só uma: o porão da casa de Dave (Barry Pepper)). Mas longe de ser um ponto negativo, tudo isso só pode demonstrar que não é preciso muito para fazer cinema de qualidade.
No filme, a talentosa Kaya Scodelario vive a personagem principal, Haley, uma jovem nadadora profissional que resolve enfrentar um furacão classe 5 para encontrar o pai, Dave, que não atendia suas ligações, encontrando-o desacordado no porão de casa. A partir daí, o bicho começa a pegar, literalmente. Em meio a tempestade que só fazia piorar, os dois se veem rodeados por imensos jacarés, sem conseguir achar uma saída para o mundo exterior.
E com essa premissa bastante despretensiosa, mostrou-se a competência de Aja em conduzir o roteiro. Sem ela, Predadores Assassinos acabaria se tornando só mais um filme clichê em que pessoas fogem de animais perigosos e agressivos desde o clássico Tubarão (1975), de Steven Spielberg. Some-se a isso a boa escalação do elenco e bom filme para você!
Assim é que Scodelario está excelente. Passando uma parte significativa do longa sozinha em cena, o que não é tarefa para qualquer um, a atuação da atriz marca presença e até mesmo seu monólogo com um cãozinho é cativante. Depois que se junta a Pepper, não precisamos de mais nada. As aparições pontuais de outros personagens (o ex-namorado da irmã de Haley e os assaltantes da loja de conveniência), são somente a cereja do bolo, adições precisas de Aja para enriquecer a experiência do espectador.
E essa experiência é construída com extrema habilidade pelo diretor. O fato de praticamente tudo ocorrer no mesmo cenário (o porão, ou seja, a casa de Dave) não atrapalha em nada a história. Ao contrário, traz um maior senso de realidade a ela enquanto pai e filha tentam encontrar uma saída num ambiente cada vez mais claustrofóbico, já que o porão em que se encontram vai aos poucos se enchendo de água, ameaçando afogá-los, e mais e mais jacarés começam a entrar. E Aja também não se esqueceu dos sustos – como não poderia deixar de fazer em um filme classificado no gênero terror (apesar de se encaixar bem melhor no de ação). Prepare-se para dar alguns pulos no sofá…
Apesar disso, é claro que nem tudo são flores. As famosas “sacações” também estão presentes, situações que jamais se dariam em circunstâncias normais, mas que são perdoáveis quando o desenvolvimento da história é bom. Como exemplo pode-se citar a cena em que um dos animais selvagens fecha a poderosa mandíbula sobre a perna de Haley e ela não somente mantém seu membro, como pouco tempo depois, começa a nadar. Um episódio parecido envolvendo seu braço também acontece.
Não obstante, a única coisa que incomoda é o desenvolvimento raso da relação anterior de Haley e Dave. O motivo do afastamento dos dois não fica tão claro como deveria, apesar de não ser suficiente para estragar o filme.
O resultado final ficou acima das expectativas, apresentando boa qualidade técnica e atuações competentes, tudo dentro de uma bem conduzida simplicidade e curta duração.