Crítica de filme

Deadpool & Wolverine

Publicado 4 meses atrás
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A trilogia de Deadpool está numa categoria de filmes que não entendem a sua própria força. O mais interessante na adaptação do mercenário tagarela é, além de seu arquétipo filme B de ação, o uso de personagens marginalizados dos próprios quadrinhos. No primeiro, Colossus e Míssil Adolescente Megassônico, e no segundo, Cable, Firefist, Zeitgeist e Dominó, por exemplo. 

Em Deadpool & Wolverine, essa boa ideia é elevada à enésima potência e o aspecto metalinguístico atribui uma nova camada ao pensar por trás desses filmes: os heróis renegados, agora, não são os renegados dos quadrinhos, mas dos deixados de lado filmes da FOX. Blade de Wesley Snipes, Elektra de Jennifer Garner, Tocha Humana de Chris Evans, Gambit de Channing Tatum e a X-23 de Dafne Keen. 

Porém, de boas intenções, o inferno está cheio. E, talvez, o inferno seja uma boa comparação a esse filme. É uma experiência excruciante assistir a boas ideias serem perdidas em um emaranhado de piadas sem graça, composições visuais paupérrimas, autoconsciência furada e uma tremenda falta de criatividade.

E o filme aposta em um acúmulo de personagens, universos, abordagens, em um acúmulo de Ryan Reynolds (!!!), um ator que, quanto mais poder recebe nos bastidores, parece que pior fica. Há, no Vazio, onde os heróis da FOX foram jogados, uma legião de Deadpools descartados que não passam da tentativa de Ryan aparecer mais e mais durante o filme. Assinando roteiro e produção, ele tem sangue nas mãos.

Os supracitados personagens, quando em ação, lutam da mesma forma e se comportam parecido, não há desinência, não há carinho ou cuidado na construção dessa despedida deles. Apenas foram jogados num mixer e triturados com outras “referências”. Os poucos elementos interessantes são domados por tudo que há de pior no filme.

Quem cresceu nos anos 2000, com toda certeza, lembrar-se-á dos característicos filmes de paródia. Todo Mundo em Pânico, o maior exemplo deles, conseguia, ao mesmo tempo, fazer uma alusão ao Pânico original e criar identidade. Deadpool tinha o potencial de ser o equivalente disso na era dos heróis, de, ainda que dentro da mesma indústria, pudesse, graças à sua metalinguagem, estipular um olhar de fora para dentro, e usar dessa autoconsciência para criar identidade dentro do maquinário hollywoodiano.

Só que em nenhum dos filmes essa ideia fica bem resolvida. Existe uma tiração de sarro com o funcionamento característico das obras de herói, mas, sempre no final dos filmes, Deadpool se entrega ao modelo e acaba se tornando apenas mais um destes.

Para fazer uma referência ao desgraçado mundo nerd, que ganhou exatamente o que pediu, um filme desprezível, cheio de fanservices e, consequentemente, mal imaginado, é como o momento em que Obi-Wan, prestes a destroçar Anakin Skywalker, diz-lhe: “Você era o escolhido, era dito que você destruiria o MCU, e não se juntaria a ele.”

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deadpool e wolverine poster
País: EUA
Direção: Shawn Levy
Roteiro: Ryan Reynolds, Rhett Reese, Paul Wernick, Zeb Wells, Shawn Levy
Idioma: Inglês

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