Há quem pense que casar com o príncipe e tornar-se a futura rainha foi punição suficiente para a madrasta do mal e as nojentas irmãs postiças da Cinderela. Mas não o diretor Andy Edwards. Para ele, o final feliz da protagonista mais apática e passiva dos clássicos da literatura estava muito longe de ser suficiente. Então ele agitou a varinha, ou melhor, suas câmeras, e criou um novo live-action de uma das histórias mais adaptadas da história do cinema.
Eis que surge, então, uma nova Cinderela. Não! Não é aquele filme de 2004 com a Hilary Duff. É uma nova produção com elenco desconhecido que transformou o famoso clássico em um terror slasher em que tudo que a Cinderela quer é vingança.
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Cinderela: Qual versão te conquistou (ou traumatizou)?
É claro que há muito perdemos a inocência dos anos 1980/90, em que a Disney nos apresentava suas tão conhecidas versões que moldaram o imaginário de uma geração. A geração Millennial ficou sabendo que as versões originais de suas amadas histórias são cheias de terror e sofrimento, o que destruiu nossa infância mágica em que imaginávamos que éramos futuras princesas no aguardo do aparecimento do nosso príncipe encantado.
Sim. Isso tudo acabou à medida em que entrávamos no século XXI. A geração Z já cresceu ensinada que esses príncipes não existem, que ser princesinha é chato e que nenhuma fada madrinha ou bichinho vão ajudar em nada – melhor pegar seu tablet e resolver tudo você mesma. A geração Alpha então nem se fala.
E é isso que A Vingança da Cinderela retrata, mas não com originalidade, como já discutido. No longa, depois de tanta humilhação e abuso, Cinderela ganha um presente especial (e inusitado) da fada madrinha: uma máscara que lhe dá ‘habilidades’ e a tornam capaz de se vingar de seus inimigos. E é aí que o sangue vai rolar solto e os problemas da produção começam.
Se você é Millennial, prepare-se para ter seu imaginário mais uma vez destruído, porque aqui a violência passa dos limites. Esqueça aquela Cinderela que você conheceu. Aqui, seu choro aos poucos começa a deixar de ser transparente. Aqui, ela não tem só raiva e ressentimento, mas mata com requintes de crueldade e gosta disso. Aqui, ela não dá um beijo suave e bonito no príncipe, mas vai fazer outras coisas que também envolvem certa agressão… Enfim, acho que vocês já entenderam.
É claro que a ideia de Edwards é a construção de um filme de terror slasher, como já mencionado, e não há nada de errado nisso. Porém o filme está ligado a um clássico muito conhecido e, ao se apoiar somente na violência exacerbada, torna-se fraco.
Isso porque ao colocar o nome da Cinderela no título, o público automaticamente cria um sentimento nostálgico que lhe é inerente. Tornar uma personagem dessa uma assassina fria e implacável, da forma como foi feito, é até constrangedor. É o contrário do que acontece com O Massacre da Serra Elétrica, por exemplo, em que não há qualquer tipo de sentimento do público por nenhum dos personagens – e é isso que o torna tão memorável.
A Vingança de Cinderela também é pobre em locações e peca por muitos clichês, mas nem tudo é tão ruim. Algumas coisas salvam o filme do desastre total e lhe dão um pouquinho de respiro e um pequeno lugar ao sol em seu gênero.
Estou falando da fada madrinha que, apesar de dar péssimo conselhos, é a melhor personagem do filme. Sendo uma entidade capaz de caminhar na linha do tempo, ela não transforma abóboras em carruagens com lacaios, mas traz um Tesla conduzido pelo próprio Elon Musk para transportar sua pupila ao baile. Ela não cria vestidos nem sapatos de cristal, mas traz Tom Ford e Christian Louboutin pra vesti-la da cabeça aos pés. E isso cria uma divertida situação intertemporal que só é atrapalhada pela falta de uma trilha sonora mais marcante nesse sentido.
As atuações também não são ruins, o que permite que fiquemos ligados no filme até o final.
Sendo assim, a melhor conclusão que podemos tirar do longa é a de que geração nós realmente pertencemos. E talvez seja isso também que vá determinar se você vai gostar de A Vingança da Cinderela ou não.
Até o próximo bibidi-bobidi-boo (ou até a próxima facada em nosso imaginário, vai saber)!
Uma resposta
Cruzes!!!