Crítica de filme

‘A Luz no fim do mundo’ – Uma narrativa de uma sociedade sem mulheres | Crítica

Publicado 5 anos atrás

Em um mundo pós-apocalíptico, é errado tratar coisas como tabu

Falar sobre a temática de uma sociedade distópica no cinema é desafiador, especialmente quando estamos vivendo um período em que Hollywood está saturada com temas repetitivos e reboots frequentes. A proposta do filme A Luz no fim do Mundo (Light of My Life), não é exatamente original, porém como diria o filosofo “Clóvis”, nada se cria tudo se copia.

Utilizar um tema comum não quer dizer se que vá contar uma história ruim, basta pegar seu esqueleto, complementar com características diferentes e oferecer um novo frescor ao tema. Foi o que Um Lugar Silencioso fez. Escrito, produzido, dirigido e estrelado por Casey Affleck, o filme retrata um Planeta Terra devastado por uma praga que dissemina a população feminina. Resta ao personagem de Affleck proteger sua filha Rag (Anna Pniowsky) – imune à doença -, das consequências que mundo sofreu com essa tragédia.

Anna Pniowsky e Casey Affleck
Anna Pniowsky e Casey Affleck em A Luz no Fim do Mundo

 

Para quem não gosta de filmes lentos, A Luz no Fim do Mundo tende a ser cansativo. Porém, é bem roteirizado, possuindo diálogos realistas e convincentes. A direção opta pela luz natural e longos planos com momentos de tensão bem inseridos na história. O filme também evita a exposição, revelando ao expectador apenas o necessário e deixando o resto a cargo da imaginação.

Ao assistir o filme eu me pegava pensando o quão fácil é imaginar os horrores que poderiam acontecer num cenário pós-apocalíptico, e até mesmo prevenir-se contra eles quando se trata de ameaças como zumbis, inteligências artificiais, ou extraterrestres. Porém, o horror presente nessa situação é diferente.

anna pniowsky e casey affleck

Diante de uma ameaça, a sociedade tende a cometer atos horrendos. Só que desta vez, em A Luz no Fim do Mundo a sociedade se encontra privada de um de seus maiores pontos de equilíbrio, a figura feminina. Na falta dela restam os homens, que na sua grande maioria obedece a seus instintos mais primitivos e se esquecem do bom senso. Decifrar a solução para outros tipos de risco à existência humana é relativamente simples, mas tente imaginar o que alguns homens poderiam fazer ao descobrirem uma garota em um mundo desprovido de mulheres. É um pesadelo para qualquer pessoa do gênero feminino.

Algumas coisas que me incomodaram foi o pai tentar iludir e esconder parte da realidade para Rag. Atenção crianças, aqui vai uma lição básica de sobrevivência: quando se vive em um mundo em que a maioria vai tentar te matar para pegar sua filha, você carrega uma arma e ensina a guria a atirar! A forma como o pai trata questões sobre sexo e puberdade também é um ato falho, pois, em um mundo onde mulheres não existem, é errado reter informações vitais ou tratar coisas da vida como tabu. A forma que ele falou do assunto poderia ser feita por qualquer figura paterna de comédia romântica. Nesse cenário não existe lugar para constrangimentos, ele deveria prepará-la para o mundo de forma clara e concisa.

casey affleck e anna pniowsky

Mas a temática não é o único elemento intrigante no filme, e sim quem idealizou o projeto. Em 2017 Casey Affleck foi acusado de assédio sexual. Por conta disso foi alvo de críticas e rejeitado pelo público. Ele assumiu a culpa e se mostra arrependido. Assistindo ao filme, não pude deixar de pensar que talvez esse fosse um trabalho para tentar redimir sua carreira porque, ironicamente, ele protege uma mulher na história e não quer que nada de mal aconteça a ela. No final das contas a filha se mostrou muito mais forte e esperta do que ele. Se ele é digno ou não de perdão, só o tempo e o público vão dizer.

No campo das atuações, Affleck consegue passar as preocupações constantes do personagem e se compromete com o papel. Anna Pniowsky (Rag) revela todas as preocupações e questões que uma criança da idade dela teria. Ela não toma decisões estúpidas na história, apenas se questiona sobre o que qualquer garota se questionaria; tem desejos, anseios e personalidade que infelizmente precisa esconder nessa sociedade predatória. Com certeza essa é uma atriz para ficar de olho. Elisabeth Moss tem uma participação muito pequena, mas sua presença passa credibilidade ao projeto, especialmente porque a atriz é protagonista de The Handmaid’s Tale, cujo tema é justamente sobre a mulher sendo subjugada em uma sociedade masculina.

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1h 59min min

País: EUA

Elenco: Anna Pniowsky, Casey Affleck, Tom Bower

Idioma: Inglês

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