Quando duas jovens missionárias mórmons, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher), batem à porta do intrigante Sr. Reed (Hugh Grant) em busca de novos membros para sua igreja, elas se veem envolvidas em um intenso debate filosófico com o misterioso anfitrião. O que começou como uma tentativa de provar sua fé logo se transforma em um mortal jogo de gato e rato.
Novamente a A24 solidifica sua excelência para o gênero de suspense. Não chega a ser uma surpresa que Herege é uma obra sólida e eficiente em transmitir sua história e seus questionamentos. Embora falte certa profundidade na trama dos três personagens, não é essa a questão que está em cheque, e sim o quanto suas crenças podem te dar razão num argumento ou até salvar a sua vida.
Terrifier 3 retorna com Art, o palhaço sádico, em um terror gráfico e intenso que desafia os limites do gênero.
Herege é o tour de force de Hugh Grant! Na pele de Reed, ele se mostra confiável, simpático e o tipo de pessoa que você fica sem graça de ser mal educada. A escolha do ator foi essencial, porque somente Grant poderia fazer você sentir esperança em uma situação da qual não há saída. O medo mora na antecipação do que vai acontecer – em momento nenhum Reed levanta a voz ou parece enfurecido. Pelo contrário, ele é articulado, atencioso e até mesmo cômico, tanto que gera um desconforto na sua imprevisibilidade. É por essa calmaria que ele se torna muito mais vil do que qualquer psicopata que tenha surgido em filmes recentes.
A dupla de atrizes consegue imprimir nossa agonia com maestria. Barnes é mais proativa para desafiar seu sequestrador, enquanto Paxton dá o benefício da dúvida até onde não aguenta mais, parecendo mais “sonsa” nos momentos de conflito e demonstrando pouca convicção em sua religião – em cuja qual, inclusive, ela nasceu, enquanto a colega é convertida. Ainda assim, Paxton consegue ser bem observadora e se mostra útil quando a corda aperta.
Quando a narrativa desenvolve o lado espiritual, observamos tanto a fé cega sendo testada quanto o esclarecimento de que, em momentos cruciais, é a fé de cada indivíduo que vale mais do que um sistema religioso. Reed é extremamente articulado em seus confrontos e, no fim, todas as religiões têm problemas e momentos de corrupção, mas até ele em algum momento sente que precisa de fé. Quando digo que a antecipação é o que mais amedronta, é porque ao chegarmos no ato final, o senso de perigo na teatralidade de Reed pouco representa em termos de impacto físico.
Herege acaba se mantendo mais na esfera do suspense psicológico do que adentrando completamente no território do terror visceral. Não que isso seja necessariamente negativo, mas fica a sensação de que havia potencial para explorar ainda mais as consequências desse embate filosófico-religioso.
Em essência, a trama não é sobre bater de frente com um sistema, e sim sobre ver as intenções da sua alma e como você encara as dificuldades da vida – isso sim é precioso. Questionar é válido, não se encaixar em uma religião também, mas o que é mais valioso é como você se preocupa com o próximo.