“Men, the thing you give up”. Só de começar a escrever esse texto sinto as lágrimas chegando aos olhos. Sing Sing ultrapassa a narrativa de prisão agressiva, não há cenas épicas, nenhuma reviravolta marcante, e a violência é mostrada na burocracia do sistema carcerário ao invés da brutalidade gráfica que filmes como esse estão fadados a mostrar. Divine G (Colman Domingo), preso em Sing Sing por um crime que não cometeu, encontra diversos propósitos para lidar com sua condição: ajudar os companheiros com seus processos, se envolver em programas sociais e, talvez o mais importante, atuar e coordenar um grupo de teatro ao lado de outros homens encarcerados. Somos agraciados com uma história de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte.
O que me comoveu de verdade nessa história é como a prática da arte cura, oferece esperança e nos une como pessoas. É lindo ver esse grupo de homens sendo vulneráveis uns com os outros – atitude que não é nada comum ou aceitável na nossa sociedade. Aquele espaço oferece segurança para que eles possam dividir parte de si mesmos e usar o tempo de encarceramento em uma prática libertadora.
![Maria Callas](https://i0.wp.com/ocinemae.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Maria-Callas-Capa.png?fit=768%2C384&ssl=1)
“Maria Callas” é como um colar de diamantes sem fecho, o filme possui elementos preciosos que nunca se completam verdadeiramente em uma peça coesa.
Quem estuda teatro nunca vai considerar os exercícios de aquecimento bobos, todos têm um sentido e propósito para destravar o corpo. A escolha narrativa de proporcionar a maior parte do tempo de tela durante as aulas só mostra sua eficiência em nos dar esperança o tempo todo. Talvez, por conta da ausência de eventos canônicos, Sing Sing não fique muito tempo na sua memória, mas enquanto você assiste, é possível acessar cada sentimento do seu ser através daquelas vidas.
O que torna tudo ainda mais impactante é que as vidas retratadas são tão verdadeiras quanto seus intérpretes – nos créditos descobrimos que nenhum dos atores interpreta um personagem fictício, são ex-presidiários que realmente faziam parte do programa de teatro. Quando passam na tela as peças que eles interpretaram na vida real, fica ainda mais difícil conter as lágrimas, pois ganhamos muito mais do que um contexto de uma história baseada em fatos reais. Apenas dois personagens são fictícios: o diretor das peças Brent Buell, interpretado por Paul Raci, e o protagonista John Divine, retratado de forma magnífica por Colman Domingo.
Faltam elogios no dicionário para Colman, e sinceramente eu poderia assisti-lo interpretar aquele personagem o dia todo. Ele transmite todo o peso que o personagem carrega por ter sua liberdade roubada, mas foi nessa injustiça que ele proporcionou a liberdade para muitos de seus companheiros. E não se preocupem, o filme mostra a rotina do grupo de teatro criando peça após peça, mas temos um final pra lá de satisfatório. Sing Sing é uma aula atrás da outra, e tecer suas lições aqui tira toda a mágica de assistir. Contudo, preciso destacar como a ideia de um sistema falho pode destruir a vida de várias pessoas e falta dedicação para reparar – mesmo com provas, uma pessoa ainda não é considerada inocente, e qualquer um iria enlouquecer frente a essa situação.
Contudo, Divine continua lutando, e ele faz isso tantas vezes que, quando precisa de ajuda, tem dificuldade em estender a mão. Mas, no fim, foi com compreensão, suporte e aprendizado entre seus companheiros que ele não só conquistou a liberdade externa, mas dentro de si.