Crítica de filme

Os Radley

Publicado 20 horas atrás
Nota do(a) autor(a): 2.5

Adaptado de um best-seller de mesmo nome, o filme Os Radley se propõe a entregar uma obra de suspense que mistura thriller com uma pitada de comédia, trazendo à tona a história de uma família aparentemente habitual, que esconde de seus vizinhos sua natureza vampiresca.

Apesar de, à primeira vista, o foco parecer estar no sangue e nos dentes afiados, adianto que Os Radley não é um filme sobre vampiros, mas sim uma história que explora camadas de sentimentos profundos do cotidiano através de seus personagens. Alguns bem desenvolvidos, outros nem tanto.

A trama ganha impulso quando Clara (Bo Bragason) desperta seus instintos selvagens após uma tentativa de agressão. Até então, seus pais haviam mantido o segredo de sua verdadeira natureza, escolhendo viver como Abstêmios – vampiros que rejeitam seus impulsos naturais em busca de uma vida comum. No entanto, o ato instintivo de Clara acaba por despertar na família desejos há muito reprimidos, colocando em xeque o frágil equilíbrio que tentavam manter.

O grande trunfo do enredo é demonstrar como a família lida com seus fantasmas internos, tentando a todo momento renegar seus instintos em favor de uma vida normal. Paralelamente, eles precisam enfrentar os desafios do cotidiano, como amor, sexualidade e hipocrisia, que se entrelaçam de maneira orgânica ao contexto da história.

Na maior parte do tempo, o diretor consegue transitar com habilidade o protagonismo entre os personagens de maior relevância, mas falha ao tentar dar complexidade a algumas narrativas. Um exemplo claro é o personagem Jared Copeleigh (Shaun Parkes), o ex-policial: por mais que o enredo tente atribuir peso à sua importância na trama, não consegue, em nenhum momento, entregar a profundidade que seu papel exige. Dessa forma, o grande responsável – pelo menos em teoria – por desmascarar a família de “aberrações” acaba se tornando apenas um tempo de tela arrastado e entediante.

Por outro lado, mesmo com uma trama de certo modo rasa, Os Radley consegue prender a atenção do espectador, muito por conta da dinâmica familiar e seus problemas internos. No entanto, conforme a história se desenrola, esse interesse pelo filme diminui gradualmente. É interessante observar como o ator Damian Lewis tem a destreza de dar vida aos personagens Peter Radley e Will, irmãos gêmeos idênticos com facetas totalmente distintas e igualmente cativantes. Ainda assim, não é suficiente para sustentar o interesse pela sequência do filme. Eu diria que é uma obra que começa bem, entregando até mais do que a expectativa, mas que acaba com um desfecho morno e decepcionante.

Mesmo sem ter lido o livro de Matt Haig, posso dizer com quase total certeza que os fãs da obra original – e são muitos, inclusive no Brasil – dificilmente aprovarão a adaptação de Os Radley para as telonas. O filme não consegue capturar a riqueza imaginária que um leitor constrói em sua mente ao mergulhar na história e, provavelmente, falha ao retratar alguns dos personagens principais. Um exemplo objetivo é Clara, que surge como o ponto central da trama no início, mas acaba tendo sua relevância sugada conforme a narrativa avança.

Se posso citar mais um elemento que me cativou antes de finalizar meu humilde comentário sobre a obra, fico com a trilha sonora. Ela é, de longe, o único aspecto do filme que consegue transmitir, ainda que de forma mínima, uma sensação de horror e perigo.

Em resumo, o filme Os Radley não traz nada de novo e nem consegue representar com maestria aquilo que já está estabelecido na indústria. Se for assistir – e recomendo que faça – vá de coração aberto e preparado para se divertir, mas não espere uma obra que vá marcar para sempre o seu imaginário.

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Os radley

Os Radley

The Radley
A16
País: Reino Unido
Direção: Euros Lyn
Roteiro: Talitha Stevenson, Jo Brand, Matt Haig
Elenco: Damian Lewis, Bo Bragason, Kelly Macdonald, Harry Baxendale
Idioma: Inglês

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