Adaptado de um best-seller de mesmo nome, o filme Os Radley se propõe a entregar uma obra de suspense que mistura thriller com uma pitada de comédia, trazendo à tona a história de uma família aparentemente habitual, que esconde de seus vizinhos sua natureza vampiresca.
Apesar de, à primeira vista, o foco parecer estar no sangue e nos dentes afiados, adianto que Os Radley não é um filme sobre vampiros, mas sim uma história que explora camadas de sentimentos profundos do cotidiano através de seus personagens. Alguns bem desenvolvidos, outros nem tanto.

Apesar de dissonâncias, ‘A Mais Preciosa das Cargas’ conversa com interessante tradição pictórica para contar história da Segunda Guerra.
A trama ganha impulso quando Clara (Bo Bragason) desperta seus instintos selvagens após uma tentativa de agressão. Até então, seus pais haviam mantido o segredo de sua verdadeira natureza, escolhendo viver como Abstêmios – vampiros que rejeitam seus impulsos naturais em busca de uma vida comum. No entanto, o ato instintivo de Clara acaba por despertar na família desejos há muito reprimidos, colocando em xeque o frágil equilíbrio que tentavam manter.
O grande trunfo do enredo é demonstrar como a família lida com seus fantasmas internos, tentando a todo momento renegar seus instintos em favor de uma vida normal. Paralelamente, eles precisam enfrentar os desafios do cotidiano, como amor, sexualidade e hipocrisia, que se entrelaçam de maneira orgânica ao contexto da história.
Na maior parte do tempo, o diretor consegue transitar com habilidade o protagonismo entre os personagens de maior relevância, mas falha ao tentar dar complexidade a algumas narrativas. Um exemplo claro é o personagem Jared Copeleigh (Shaun Parkes), o ex-policial: por mais que o enredo tente atribuir peso à sua importância na trama, não consegue, em nenhum momento, entregar a profundidade que seu papel exige. Dessa forma, o grande responsável – pelo menos em teoria – por desmascarar a família de “aberrações” acaba se tornando apenas um tempo de tela arrastado e entediante.
Por outro lado, mesmo com uma trama de certo modo rasa, Os Radley consegue prender a atenção do espectador, muito por conta da dinâmica familiar e seus problemas internos. No entanto, conforme a história se desenrola, esse interesse pelo filme diminui gradualmente. É interessante observar como o ator Damian Lewis tem a destreza de dar vida aos personagens Peter Radley e Will, irmãos gêmeos idênticos com facetas totalmente distintas e igualmente cativantes. Ainda assim, não é suficiente para sustentar o interesse pela sequência do filme. Eu diria que é uma obra que começa bem, entregando até mais do que a expectativa, mas que acaba com um desfecho morno e decepcionante.
Mesmo sem ter lido o livro de Matt Haig, posso dizer com quase total certeza que os fãs da obra original – e são muitos, inclusive no Brasil – dificilmente aprovarão a adaptação de Os Radley para as telonas. O filme não consegue capturar a riqueza imaginária que um leitor constrói em sua mente ao mergulhar na história e, provavelmente, falha ao retratar alguns dos personagens principais. Um exemplo objetivo é Clara, que surge como o ponto central da trama no início, mas acaba tendo sua relevância sugada conforme a narrativa avança.
Se posso citar mais um elemento que me cativou antes de finalizar meu humilde comentário sobre a obra, fico com a trilha sonora. Ela é, de longe, o único aspecto do filme que consegue transmitir, ainda que de forma mínima, uma sensação de horror e perigo.
Em resumo, o filme Os Radley não traz nada de novo e nem consegue representar com maestria aquilo que já está estabelecido na indústria. Se for assistir – e recomendo que faça – vá de coração aberto e preparado para se divertir, mas não espere uma obra que vá marcar para sempre o seu imaginário.