Crítica de filme

Oeste Outra Vez

Publicado 5 dias atrás
Nota do(a) autor(a): 5

Oeste Outra Vez é uma obra que merece ser imortalizada tanto por sua qualidade artística quanto por sua capacidade de traduzir a realidade por meio do entretenimento, mas que, infelizmente, passará despercebida pelo grande público. Digo isso porque o longa é um retrato magnífico de um Brasil marginal, que se apropria da veracidade para construir uma ficção incrivelmente tocante e bem desenvolvida, e será uma pena não testemunhar a repercussão que esse filme verdadeiramente merece.

O longa narra uma perseguição movida por vingança. Dois homens do interior de Goiás travam uma disputa violenta pelo bem mais valioso daquele lugar vazio: a companhia de uma mulher capaz de amenizar a dor da solidão. A genialidade do filme se revela em todos os seus aspectos, desde a trilha sonora, que contrasta de maneira perfeita com a fotografia crua e realista, até o enredo — aparentemente simples no início, mas que se desdobra em uma complexidade surpreendente.

O diretor e roteirista Érico Rassi acerta em cheio ao transmitir a essência do filme. Desde os primeiros momentos, fica claro que a trama não se resume a um triângulo amoroso, mas sim à forma como a solidão, a ignorância e a miséria dominam a vida de uma parcela significativa de um Brasil paradoxal.

Em Oeste Outra Vez, drama, comédia, aventura e violência coexistem em um mesmo universo. A profundidade dos personagens está nos detalhes: mesmo com diálogos contidos, é possível ouvir — e sentir —, através do silêncio, as emoções que permeiam cada vida retratada na tela. Emoções essas que transbordam solidão e angústia, mas também amor, ainda que este último permaneça oculto sob as camadas mais densas daquele mundo.

Trata-se, então, de um filme marcante — daqueles que se recusam a sair da memória. É uma obra que, como boa parte das produções cinematográficas, busca entreter o público, mas também carrega debates sociais fundamentais. Aborda questões como a desigualdade social e as estruturas que moldam a brutalidade cotidiana. Ali estão retratados homens ignorantes, agressivos, machistas e vazios. No entanto, ao olharmos para o contexto que define suas realidades socioeconômicas, é difícil não sentir certa compaixão diante da aberração que se revela. Afinal, o que esses homens receberam em suas vidas, senão o vazio absoluto? As únicas coisas capazes de uni-los são justamente as armas, a crueldade e a cachaça.

No dia seguinte, após essa sessão maravilhosa, procurei no meu ciclo alguém que demonstrasse ao menos algum interesse em assistir a Oeste Outra Vez, mas não encontrei muito entusiasmo. Lembro até de ter apelado com um “É com o Babu, do BBB”, mas isso pouco ajudou a despertar curiosidade. É uma pena, porque o filme não só apresenta retratos sociais relevantes, como também comprova a genialidade de um cinema brasileiro frequentemente esquecido — tanto pelos nossos governantes quanto pelos espectadores.

De qualquer forma, sinto que é minha missão dizer: Oeste Outra Vez é um filme obrigatório, especialmente para os amantes da sétima arte. Fico feliz em ver que o cinema nacional permanece vivo, mantendo uma essência única que o coloca entre os maiores do mundo. Sonho com o dia em que as salas de cinema pelo Brasil estarão tomadas por produções brasileiras — e torço para que Érico Rassi continue nos presenteando com obras tão poderosas quanto Oeste Outra Vez.

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Oeste Outra Vez Poster

Oeste Outra Vez

Oeste Outra Vez
14
País: Brasil
Direção: Erico Rassi
Roteiro: Erico Rassi
Elenco: Ângelo Antônio, Babu Santana, Rodger Rogério, Daniel Porpino
Idioma: Portugues

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