Crítica de filme

Pecadores

Publicado 19 horas atrás
Nota do(a) autor(a): 4.5

Em Pecadores, o ano é 1932 e os gêmeos Smoke e Stack (Michael B. Jordan) estão de volta ao Mississippi após passarem quase uma década em Chicago. Com uma quantia alta de dinheiro em suas mãos após participarem de uma série de golpes, os irmãos retornam para a terra natal com o objetivo de abrir um salão de blues, estilo musical que é a grande paixão de seu primo mais novo, Sammy, um jovem músico de relação conturbada com seu pai, o padre da pequena cidade onde moram. O que de início parece ser uma oportunidade para se sentirem seguros e confortáveis em um ambiente comandado por eles e frequentado majoritariamente por pessoas pretas, acaba se tornando um farol para convidados inoportunos quando o dia se põe e a noite ganha vida.

Se o final do primeiro parágrafo te fez pensar em vampiros, é porque eles são a ameaça principal do filme. E a história introduz esse elemento de seu universo por meio de um folclore fascinante que conecta o misticismo a potência espiritual da arte. As criaturas não são necessariamente assustadoras ou retratadas de uma maneira inovadora, mas possuem uma força veemente no modo como se portam a fim de conquistar seu objetivo. Elas são entidades manipuladoras irredutíveis que utilizam de relações pré-estabelecidas, convenções sociais e a violência racial do período histórico em que o filme se passa como método de abordagem e armadilha. E o grupo que acompanhamos lutando por sobrevivência durante esse fatídico encontro é um grande motivo pelo qual Pecadores funciona tão bem.

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Michael B. Jordan está excelente em um papel duplo que ele interpreta com dinamismo. Ao mesmo tempo, em que o ator consegue exibir as semelhanças que tornam os gêmeos tão próximos em parceria, ele sabe traduzir os seus pontos de diferença com a mesma eficiência, seja em divergências de maturidade ou opinião. O elenco de apoio também brilha, com todos os personagens sendo introduzidos de forma satisfatória e defendidos pelos seus respectivos atores com uma convicção louvável, como observado através dos desempenhos de Hailee Steinfield e Wumni Mosaku. Mas o grande destaque do filme é Miles Caton. O novato, que assume o papel de maior carga emocional do filme no seu primeiro trabalho como ator, dá vida a Sammy com uma gana palpável, tanto em seus momentos mais introspectivos quanto nas instâncias em que ele se comunica por meio de canções.

As sequências musicais de Pecadores, inclusive, rendem diversas cenas de imersividade profunda – com o momento em que Sammy abraça o blues com tamanha paixão ao ponto de romper o tempo e espaço sendo o grande destaque entre elas. A energia inserida na construção dessa virada é transcendente em movimentação e digna de causar arrepios. Um exemplo afiado da potência e originalidade de Ryan Coogler como diretor. Mas ela não é o único momento musical de tirar o fôlego. Muito pelo contrário, a trilha sonora de Ludwig Göransson é tão rica em sua composição de progressão e arranjos, que ela quase soa como uma espécie de religião, onde a dor e alegria encontram uma brecha de escapismo no som de uma melodia pulsante.

E mesmo que o projeto sofra com uma inconsistência referente a certas decisões de montagem e alguns momentos onde os efeitos especiais não convencem em capacidade máxima, a relevância desses pequenos deslizes desaparece, quase que por completa, perto de seus inúmeros acertos, onde também vale a pena ressaltar o meticuloso trabalho de figurino e ambientação do longa. Quando os créditos sobem, o veredito é simples. Pecadores é uma experiência cinemática imperdível que nunca perde foco de seu potencial como fonte de entretenimento, mas que alcança novas alturas ao explorar as dificuldades de preservar a sua posição no mundo quando se é negado um lugar ao sol.

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pecadores poster

Pecadores

Sinners
16
País: EUA
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Elenco: Michael B. Jordan, Miles Caton, Hailee Steinfield
Idioma: Inglês

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