Adjetivos como “horripilante”, “assustador”, “tenso” e expressões do tipo “de gelar a espinha!” podem ser encontradas com frequência em obras do horror como uma maneira de definir o que se acabou de presenciar. Geralmente é no melhor sentido da palavra, mas não é o caso de 7 Desejos. O filme lançado em 2017 traz a conhecida fórmula fútil de abordagem da típica garota adolescente norte-americana cujas situações cotidianas englobam: a vergonha que sente do pai ao vasculhar o lixo com o amigo em frente à escola que frequenta; o amor não correspondido pelo bonitão da mesma – que namora uma megera -; o amigo que nutre um amor platônico por ela; a indiferença das pessoas, e assim por diante. Não bastasse a duríssima rotina da jovem Clare (Joey King), ela presenciou a própria mãe cometer suicídio quando ainda era uma criança. Mas sua vida está prestes a mudar…
Morando na mesma casa em que ocorreu a tragédia, a garota recebe do pai, Jonathan (Ryan Phillippe, aquele mesmo) um artefato chinês encontrado em uma das inúmeras latas de lixo do local. O tal artefato tem a premissa de conceder ao seu portador sete desejos, sejam eles quais forem. Clare sabe disso porque está escrito no objeto encontrado e ela entende um pouco do mandarim porque estuda o idioma. Assim, mesmo descrente, a garota, que não tem nada a perder, resolve arriscar. Mas o objeto amaldiçoado possui poderes sobrenaturais e, em troca da obtenção dos desejos, cobra almas humanas por cada feito, incluindo a de quem desejou, ao final de tudo.
Mas, quem tem a alma tomada em 7 Desejos é o pobre espectador ao presenciar um filme cujo roteiro sem finalidade inclui mortes nada originais e é repleto de diálogos tacanhos que só exibem o quão rasas são as ideias da responsável (Barbara Marshall), além de uma montagem que não oferece ritmo interessante e se perde na mais básica diluição do tempo.
O longa conta ainda com uma absurda falta de domínio por parte da direção e da direção de fotografia, que não conseguem explorar o mínimo dos enormes espaços dos quadros para trazer alguma lógica visual ou algum tipo de relevância referente à linguagem que impulsione a narrativa do proposto, também ligadas aos elementos citados no parágrafo acima.
Ah, quase esqueci de mencionar o trabalho de direção de arte que abrange o lar da protagonista sob dois ambientes distintos, transformando o interior em algo aconchegante ao passo que capta o exterior totalmente abandonado, destoando drasticamente do que se propunha ser o mesmo ambiente carregado de tristeza. Isso tudo, aliado à desastrosa mise-en-scène, que chega ao ápice do cúmulo ao manter a bicicleta de Clare no mesmíssimo local no jardim passados 12 anos do ocorrido com sua mãe Johanna (Elisabeth Röhm). Basicamente 7 Desejos é um filme que insulta a inteligência de quem assista. Para completar, alguém decidiu que deveria ser inclusa uma cena final durante os créditos.
Eis que pode surgir, então, uma indagação: seria correto exigir tanto assim de um filme de horror cujo orçamento girou em torno de US$ 12 milhões? Absolutamente! Hereditário, por exemplo, foi lançado um ano depois, teve um orçamento de US$ 10 milhões, se deu ao luxo de contar com Toni Collette, Gabriel Byrne e Ann Dowd no elenco e conseguiu sucesso de crítica e público, mesmo que seu desfecho não tenha agradado a todos.
Já Corra!, do mesmo ano de 7 Desejos, teve um orçamento de menos da metade (US$ 4,5 milhões) e repercutiu imensamente, faturando uma estatueta do Oscar, inclusive. A Bruxa, de 2015, teve orçamento de US$ 4 milhões disponibilizados a um cineasta estreante para compor um folk horror movie com clima de tensão extremamente esmagador. Em 2014, Corrente do Mal apresentou uma proposta interessante e eficaz e foi produzido com US$ 1 milhão (!!!!!). Isso para citar apenas alguns. Ou seja, com certeza deve-se cobrar SIM resultados perante orçamentos relevantes a determinados exemplares.
E caso você continue determinado(a) a encarar essa atrocidade, faça um desejo antes de começar: peça que não se arrependa ao final por tê-lo assistido.