Arya Stark começou menina, pequena e magricela, entre os muros seguros de Winterfell, protegida por Gelo – a temível espada gigante de seu pai – e pelos melhores guerreiros do Norte inóspito. Preferia lutar a bordar, gostava mais do arco e flecha do que da agulha, tinha mais jeito com a caça do que com as lidas da casa e se sentia mais à vontade vestida de couro e cota de malha do que usando vestidos e sedas.
Arya Stark, garota arisca, de raciocínio rápido e língua solta e que nutria um ligeiro ciúme da irmã mais velha, a bela Sansa de elegante envergadura, pele pálida e ruiva como só um Tully podia ser.
Arya Stark, que tinha em Sansa seu oposto e em Jon, o bastardo, sua inspiração. Dele recebeu seu melhor presente – finalmente uma espada, pequena e fina como ela. Ei! Parecia uma Agulha.
Arya Stark que saiu de Winterfell quando o pai tornou-se Mão do Rei, brigou com o nojento Joffrey na estrada e acabou perdendo sua loba gigante, Nymeria, que ela afugentou para proteger da morte. Foi parar em Porto Real, a superestimada capital westerosi onde, sob a supervisão de Syrio Forell, virou dançarina da água.
Arya Stark rasgou roupas, manchou vestidos, perseguiu gatos, equilibrou-se sobre uma só perna e descobriu sua habilidade com a canhota. “Não sou senhora”- disse ela, decidida ao senhor seu pai – “não vou me casar com um senhor ou gerir castelos. Sou dançarina da água.” Menina rebelde. Menina habilidosa.
Arya Stark, que sobreviveu aos terríveis acontecimentos que sucederam a morte do Rei Robert, fugindo da Fortaleza Vermelha e de seus captores. Passou a viver nas ruas nojentas e estreitas da Baixada das Pulgas, caçando e vendendo pombos. Ficou suja e fedida, mas viva.
Arya Stark, que assistiu ao falacioso julgamento do pai e sua sucessiva decapitação pelo hediondo e agora rei, Joffrey. E a partir desse momento, Arya Stark deixou de existir.
Garoto Arry saiu de Porto Real escoltado pelo patrulheiro Yoren e uma trupe de bandidos em direção ao amado Norte. Queria voltar para casa e reencontrar Jon, o bastardo, seu irmão favorito.
Garoto Arry, que fez amizade com o aprendiz de ferreiro, Gendry e o filho do padeiro, Torta Quente, mas que foi atacado pelos guardas Lannister, salvou o homem sem rosto Jaqen H’ghar, foi capturado às margens do Olho de Deus e levado até a imensa Harrenhal. Ali, no castelo assombrado, virou empregado do Lorde de Leão, que não o reconheceu sob sua fachada masculina e até apreciou sua companhia.
Garoto Arry que agora possuía crédito com Jaqen H’ghar, tornou-se o fantasma de Harrenhal, matou alguns homens perigosos, arrebanhou Gendry e Torta Quente e fugiu novamente.
Garoto Arry não teve sorte com o destino, que teimava em não deixá-lo voltar para casa. No caminho deparou-se com a trupe de Beric Dondarrion e Thoros de Myr e, mais uma vez capturada, cruzou caminho com um certo Cão de Caça, que os encontrou em marcha. Clegane desafiou Dondarrion e venceu, reconheceu Arry e então Arry deixou de existir. Em seu lugar estava de volta Arya Stark.
Arya Stark, que agora junto ao Cão, atravessava as terras fluviais em direção às Gêmeas, onde os Frey da travessia hospedavam sua mãe. E por tão pouco sua vida não foi diferente. Tivesse chegado poucas horas antes, Arya teria encontrado sua progenitora e seu irmão Robb, vivos. Mas ela chegou em meio ao Casamento Vermelho e, assim órfã de pai e mãe, fugiu mais uma vez.
Arya Stark voltou à estrada, onde uma estranha amizade com o Cão surgia, ele que ironicamente estava em sua famosa lista de indivíduos a matar, nomes que ela sussurrava ao vento para não esquecer. Porém, uma vez mais o destino atuou, porque Brienne de Tarth a encontrou, lutou com o Cão e venceu. Sem saber que a mulher gigantesca tinha boas intenções, Arya Stark fez o que agora fazia de melhor e novamente escapuliu.
Agora sozinha, Arya Stark chegou ao extremo oriente do Westeros e, com uma moeda estrangeira que havia ganhado de Jaqen H’ghar, embarcou num navio, desaparecendo.
Arya Stark atravessou o Mar Estreito e aportou na misteriosa e rica Bravos. Ali, na Casa do Preto e Branco, reencontrou o homem sem rosto e começou seu treinamento para se tornar Ninguém.
Ninguém se esforçou bastante. Perdeu visão, audição, paladar, tato e voz, um de cada vez. Recuperou-se. Treinou, treinou e treinou. Conheceu Bravos, conheceu pessoas, conheceu a dor, conheceu a vida, e quando Ninguém estava pronto para realmente ser Ninguém, quis voltar a ser Arya Stark.
Arya Stark, que voltou à sua terra natal, disposta a riscar os nomes sussurrados de sua lista mórbida. Chateou-se por não ter matado Joffrey com as próprias mãos, mas de forma espetacular, tirou a vida do nojento Walder Frey, o Senhor da Travessia, que promovera o triste fim de sua mãe e irmão. E isso sem falar na degola de Mindinho, o Traidor.
Arya Stark, que depois de anos regressou a Winterfell, onde reencontrou os irmãos. Sansa, também sofrida, agora Senhora do castelo. Jon, agora Aegon Targaryen, amante de Dany e Rei do Norte. E Bran, o Corvo de Três Olhos, inválido e poderoso.
Arya Stark, que conhecemos menina, agora era mulher. Preparou-se para a maior guerra de todos os tempos e fez amor com Gendry. Lutou, correu e saltou para o inesquecível golpe que mataria o Rei da Noite, salvando a humanidade da extinção e o mundo de um destino escuro e gélido.
Heroína Arya Stark. Agora só restava um nome em sua lista e ela se viu novamente no lugar onde suas desventuras começaram. Cersei precisava ser derrotada em Porto Real. Mas Arya Stark não podia ter tudo, e o destino reservou uma morte bem mais romântica para a rainha Lannister do que a moça poderia ter desejado.
Sobrevivente Arya Stark, que provou várias vezes o motivo de ser uma das personagens favoritas dos Throners. Agora está tudo acabado e uma vida inteira se estende a sua frente. Sem castelos ou sedas para você. O Mundo Desconhecido a espera. Suba no navio, Arya Stark e nos conte o que há no Oeste. E se você não voltar, como tantos outros exploradores não voltaram… Valar morghulis, mas saiba, que temos um grande orgulho de você, pequena Loba.
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Viva a pequena Loba que tanto amamos!
Viva!!