Crítica de filme

O grande simbolismo de ‘Maria e João: O Conto da Bruxa’

Publicado 5 anos atrás
Nota do(a) autor(a): 4.5

Quando se fala em terror, a primeira coisa que vem à cabeça é susto. Para muitos, as duas palavras são sinônimos e estão tão interligadas que não podem existir uma sem a outra. Se for assim, Maria e João: O Conto das Bruxas (Gretel & Hansel), do diretor Oz Perkins, não pode ser considerado um exemplo do gênero.

Ao longo da história do Cinema, alguns diretores se tornaram mestres do horror, como Dario Argento, do aclamado Suspiria, Alfred Hitchcock, dos clássicos Psicose e Os Pássaros, e Guillermo del Toro, do excelente A Colina Escarlate entre outros.

Mais recentemente, as histórias assustadoras orientais ganharam grande abertura aqui no Oeste, e então vieram ícones do estilo, como O Chamado de Hideo Nikata e O Grito, de Takazhi Shimizu.

O susto, no entanto, é algo pessoal. O que assusta um, pode não assustar outros, com algumas poucas exceções (não tem como não pular pelo menos uma vez em Jogos Mortais, por exemplo). Sendo assim, não é essa a reação mais importante do terror. O que caracteriza o gênero é o medo. E é aí que se encaixam grandes obras como A Bruxa, de Robert Eggers e, agora, o próprio Maria e João: O Conto das Bruxas, horror para adultos.

maria e joão Sophia Lillis
Sophia Lillis em ‘Maria e João: O Conto das Bruxas’

Não há um só minuto durante a película, que é baseada no clássico conto de João e Maria, em que o medo não esteja presente de uma forma ou de outra – nem sempre angustiante ou insuportável, mas sempre presente. Não só o medo de fantasmas, de entidades sobrenaturais ou de monstros, mas também o medo da fome, da perda e do porvir. E o mérito, quanto a isso, pode ser dado principalmente ao elenco de primeira linha do longa. Sophia Lillis (a Beverly de It – A Coisa), que interpreta a Maria; além de Alice Krige e Jessica De Gouw, que interpretam Holda (a bruxa), em suas versões velha e jovem, respectivamente, estão sensacionais, as próprias encarnações do terror.

De forma magistral, Lillis dá vida a uma personagem ambígua que conquista o espectador desde o primeiro momento – ora uma irmã zelosa, ora uma filha prestativa, ora uma mãe precoce, ora uma criança temerosa, ora uma mulher que acabou de desabrochar. Já Krige se tornou a bruxa de nossos piores pesadelos, traiçoeira, sedutora, elegante até. E quando a personagem toma a forma mais jovem de De Gouw, as coisas se tornam ainda mais interessantes, e nos deparamos com uma feiticeira cheia de tatuagens e valores deturpados.

maria e joão Sophia Lillis

Soma-se a isso a sutileza de Oz Perkins na inserção do simbolismo – a parte mais interessante de seu filme -, e já temos um tesouro surgindo. Assim, quando espia pela janela da bruxa, Maria vê uma mesa repleta de guloseimas – ou o paraíso, para usar suas próprias palavras. Mas o espectador vê o Olho da Providência, representado por um triângulo com um olho no meio, o símbolo da onisciência utilizado pelos Illuminati e pelos Maçons. Em muitas cenas também é possível observar o Pentagrama, símbolo que tem sido associado, desde muito tempo, ao mistério e à magia e que é reconhecido por todos os seguidores do paganismo – tudo a ver com Holda e sua família, que se entregou às artes obscuras, e também com Maria, como o leitor poderá perceber ao final do filme – não darei spoilers!

Tudo isso ainda é ajudado pela fotografia genial da película. O cuidado com a escolha das locações é perceptível, principalmente no que tange às florestas. Tais imagens parecem ter sido filmadas todas no outono, quando o vermelho e o amarelo – cores predominantes do filme – são mais perceptíveis na natureza. E essa escolha não foi à toa, já que os referidos tons representam dois dos elementos mais importantes da história: sangue e poder.

maria e joão floresta

Assim, o fato de ora Maria, ora Holda aparecerem cercadas por essas tonalidades, como uma aura que vai se fortalecendo com o passar do tempo, diz muito sobre as duas incríveis personagens e sobre a rica história que Perkins nos conta. Essa história na qual, junto ao conto de João e Maria, pode-se perceber as referências a outros clássicos, como Chapeuzinho Vermelho – basta observar a participação do Caçador e o conselho que ele dá em relação a lobos charmosos e perigosos -; e Alice No País das Maravilhas – quando Maria e João comem cogumelos alucinógenos e também quando Maria se espreme por uma porta minúscula para sair em um cômodo de pé direito enorme que parece engoli-la.

maria e joão Sophia Lillis

Não espere sustos, não espere ação. De Maria e João: O Conto das Bruxas espere somente o verdadeiro terror misturado à fantasia. Depois do grande desapontamento do recente O Grito, os fãs do cinema de gênero já podem exultar!

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maria e joao o conto das bruxas poster maior

Maria e João: O Conto da Bruxa

Gretel & Hansel
País: EUA
Direção: Oz Perkins
Roteiro: Rob Hayes, Jacob Grimm, Wilhelm Grimm
Idioma: Inglês

Respostas de 11

  1. Concordo com Edna, não sei se aconteceu com vocês mas estou em época de provas nessa quarentena então estou meio estressado, no meio do filme comecei a pegar no sono, vocês pesam a isso quer dizer que o filme é chato, pelo contrário eu me senti dentro do filme eu adormecia e acordava e bem na hora que entende a bruxa eu acordei de vez! Foi uma experiência incrível

    1. Escrevi errado”adormecia e acordava na parte que Maria tinha problemas com pesadelos” e “bem na hora que a Maria entende a bruxa e seus poderes eu acordei de vez”

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