O Chamado da Floresta é tão seguro que deixa a sensação de mais do mesmo.
Você já assistiu a algum filme e sentiu aquele deja vu bater? Aquela sensação de que o que você está vendo não é novo e que já passou em algum lugar? Então, eu tive essa sensação em O Chamado da Floresta (The Call of The Wild). Apesar de ser um filme atual, o longa-metragem parece deslocado de seu tempo e remete aos tempos áureos do “cinema de animal”, consagrado pela exibição de filmes como Bud – O Cão Amigo e K-9 na Globo e no SBT.
Assim como nesses filmes, O Chamado da Floresta também se propõe a ser um entretenimento para toda a família, mas, em vez de apostar na comédia, a película deposita todas as suas fichas em um drama edificante, narrando a história de Buck, um cachorrinho de estimação que é retirado a força de sua família californiana e mandado para os confins do Alasca na época da corrida pelo ouro.
Baseada em um livro de Jack London, esta é a quinta adaptação live action do romance para os cinemas. Centrada em Buck, a história acompanha o cachorrinho passando por diversas provações para adquirir a sua emancipação da vida de cão doméstico e se tornar um cão selvagem, líder da matilha e dono de seus próprios instintos. É um draminha simples, direto, com uma mensagem inspirativa de autoaceitação. No entanto, por mais bonita que seja sua mensagem, o filme sofre com seus inúmeros problemas técnicos.
Dentre eles, o maior pecado do filme é seu ritmo. A narrativa morosa e desinteressante faz com que os 100 minutos de duração pareçam 200. Isso porque o longa tira diversos respiros para contemplar as belíssimas paisagens do Alasca e, por mais bonita que seja sua fotografia, estas pausas pouco acrescentam à história.
Além disso, o drama insere momentos esotéricos de Buck tendo visões de um lobo selvagem, que além de serem extremamente expositivas, não fariam falta ao filme. Ainda sobre o ritmo, a falta de cadência na história fica evidente quando personagens são inseridos e retirados de maneira abrupta, parecendo que o roteiro não sabia muito bem o que fazer com eles.
Outro grande problema da história é a falta de carinho com os personagens, pois todos são extremamente subdesenvolvidos, chegando a uma unidimensionalidade completamente maniqueísta representada pela figura de Spitz, o cão antagonista com nome de general nazista que é essencialmente mal. Se há algum personagem minimamente bem trabalhado além de Buck, esta figura é John Thornton (Harrison Ford), o último companheiro de cachorro em sua jornada rumo à floresta. No entanto, seu desenvolvimento é feito através de diálogos expositivos praticamente jogados na nossa cara, pois sua participação de fato só começa durante a metade final do filme, diferente do que sugeria o material promocional do longa-metragem. Com uma atuação contida, Ford transmite o luto de seu personagem e parece se divertir com o filme.
A grande aposta do longa, porém, é a substituição dos animais de verdade por versões computadorizadas deles. Em primeiro momento, estas versões podem parecer artificiais e destoantes demais das locações, pessoas e cenários reais do filme. No entanto, passando os primeiros minutos de estranheza e fazendo algumas concessões para mergulhar na narrativa, os efeitos especiais convencem e imprimem uma expressividade que seria impossível de se atingir com cães reais. Portanto, acredito que a escolha acaba sendo certeira, mesmo não sendo um primor de execução.
No fim das contas, a sensação que O Chamado da Floresta deixa é que sua cautela e esforço para abranger a maior quantidade de pessoas possíveis através de sua temática universal acabaram tornando o longa-metragem um produto completamente genérico. A sensação que fica é o grande deja vu que predomina durante toda a duração da história deste produto, prejudicando a transmissão de sua mensagem e tornando o filme algo estéril, enlatado.