Lembram daqueles filmes de “stalker” dos anos 90 que sempre têm uma mulher maluca atrás de outra mulher, que é ou uma ameaça ou alvo de uma paixão bem distorcida? Enfim, se esse tema não funcionava direito naquela década, imaginem atualmente. Por isso é de se admirar que um filme tão fraco como Paixão Obsessiva tenha sido lançado recentemente (2017), ainda mais pela Warner. De qualquer forma, os filmes de categoria B nunca vão de deixar de existir. Agora, a Netflix disponibiliza um título sem graça em seus catálogo.
O que torna um filme de suspense bem sucedido é o fator surpresa, elemento que falta por completo nessa trama. Em cada cena é possível prever os próximos passos e até mesmo o desfecho do filme. O problema é que os criadores tinham uma premissa interessante nas mãos: explorar os efeitos de um relacionamento abusivo na vida de uma mulher. A cena inicial era um aperitivo do que o filme poderia ser se trabalhasse em cima dessa temática, abriria um leque de possibilidades para uma trama excelente. Um exemplo vivo disso é o recente O Homem Invisível. Porém, apostaram na velha rivalidade feminina, o que é bem surpreendente considerando que a direção e o roteiro são comandados por mulheres.
Ter duas protagonistas disputando o amor de um homem é especialidade dos homens héteros. A única pessoa que realmente deu o sangue na produção foi a “azarada” de Hollywood, Katherine Heigl. Ela coloca muita seriedade em cima da ex-mulher sociopata Tessa, afinal dá para entender sua dedicação: Heigl desistiu de uma série premiada (Grey’s Anatomy) para investir no cinema, mas parece que Shonda Rhimes jogou uma praga boa na moça, porque ela tem um talento nato para se meter em filmes ruins.
Tessa é uma mãe de classe média alta, perfeccionista, exigente e ciumenta. O seu comportamento provém da relação que tem com a mãe, que parece ser ainda pior. É um círculo vicioso – tudo o que ela sofreu, coloca em cima da filha, Lily (Isabella Kai), porém o lerdo do progenitor não percebe esses alertas e está preocupado em seguir a vida ao lado de Julia Banks (Rosario Dawson), uma editora que não mostra a força que uma vítima de abuso sofreu. O tempo todo ela tenta se adaptar à situação de morar com David (Geoff Stults), não trabalha seus traumas e pior, subestima a capacidade de Tessa de interferir em sua vida.
As duas protagonistas passam a maior parte de história em uma relação passiva-agressiva cheia de segredos, roubos e inveja. Quando finalmente acontece o embate, a sensação que fica é a de que nenhuma lição foi aprendida. Enquanto isso, o alvo de ambas é aquele velho personagem “acessório”, completamente alheio a toda situação. Eventualmente o ex-namorado abusador de Julia entra em cena, mas sai tão rápido quanto entrou, excluindo legitimamente a única parte que poderia ser interessante para a história. A ideia de seu surgimento serve apenas para manter Julia assustada e indefesa, o que é completamente compreensível, mas de novo mal trabalhado.
Fora isso, não há muito o que falar de Paixão Obsessiva. Assim que termina de assistir, o espectador esquece completamente o que acabou de testemunhar e sente que desperdiçou boas duas horas de sua vida nessa bomba.