Dramas históricos, por mais fiéis que sejam aos fatos, não deixam de ser subjetivos. Tudo depende do olhar do realizador, que irá colocar suas próprias crenças acerca dos fatos e criar sua narrativa em cima deles. Anton – Laços de Amizade (Anton) é um claro exemplo disso.
O longa conta a história de uma pequena vila ucraniana em 1919, onde alemães e judeus vivem lado a lado até que os Bolcheviques chegam trazendo a Revolução Russa às suas portas. No meio disso, o menino católico Anton e seu amigo judeu, Jacob, constroem uma amizade que irá durar por suas vidas inteiras.
Último filme dirigido por Zaza Urushadze, indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pelo filme Tangerinas, Anton – Laços de Amizade expõe a visão de mundo do cineasta de forma nada sutil ao retratar os bolcheviques como vilões da trama. Chamados pelos fazendeiros “de bem” de “cadela” e “monstro”, utilizando-se até de personagens reais da História, como Leon Trótski, Urushadze os transforma em vilões caricatos, típicos de filmes de ação dos anos 80 onde os vilões eram sempre os soviéticos comunistas. Os diálogos de Trótsky, em particular, são reacheados de máximas contra religiões, a favor da libertinagem e que não ficariam deslocados se, quando os dissesse, o ator também enrolasse a ponta de seu bigode.
No entanto, o maior problema do longa é focar muito mais nessa trama do que na história de seu personagem-título. Anton e seu amigo Jacob são apenas personagens periféricos na trama. Aparecem esporadicamente para lembrarmos que o filme deveria ser sobre eles. O diretor parece mais interessado em mostrar o seu ponto de vista dos fatos ocorridos do que em desenvolver a amizade entre duas crianças de religiões diferentes em uma época violenta. São facilmente as melhores partes do longa quando os meninos conversam entre si sobre nuvens, vida e morte. Uma pena ficarmos tão pouco tempo com eles.