Existem filmes de comédia que quebram paradigmas por não serem iguais à maioria; há filmes pastelões com histórias genéricas e há comédias de humor grotesco. Esse texto não pretende fazer suspense – Viagem das Garotas segue o estilo escrachado e óbvio. A história não é muito diferente do que já vimos: um grupo de amigas vivendo loucuras em uma viagem para renovar os laços enquanto lidam com dramas pessoais, além de enfrentar problemas dentro do grupo.
No entanto, o que diferencia esse longa dos outros é o elenco. Fazia muito tempo que não se via um time tão carismático (e deve ser destacado de imediato o talento nato de Tiffany Haddish). Pessoalmente, eu assistiria qualquer coisa que essa mulher fizesse, até das piadas ruins que ela jogava me faziam rir. A produção chegou à Netflix na última segunda-feira (20) e é exatamente o tipo de filme que você espera encontrar no streaming: uma diversão despretensiosa com diversas piadas de mal gosto. Sim, Viagem das Garotas não está isento desse tipo de comédia, o que é uma pena, já que a premissa é muito boa.
Sendo assim, quem não gostaria de ver uma mulher negra e bem sucedida sendo destaque? Quem não quer ver uma história que aborda a negritude sem englobar escravidão ou dramas de periferia? Bom, antes que esse texto vá por caminhos que a minha compreensão ainda não alcançou, voltemos ao enredo.
O título dessa crítica classifica esse filme como um buddy comedy, que é uma premissa simples, um grupo de pessoas que tem sua amizade testada em uma determinada aventura ou jornada. Então além dos dramas individuais de suas protagonistas, a história é centrada em como uma amizade pode resistir ao tempo, encontrando uma forma dessas mulheres estarem sempre juntas em momentos chave de suas vidas. Afinal, não importa quanto tempo passe, se uma amizade é verdadeira, ela nunca vai morrer.
Em Viagem das Garotas, o conflito dessa amizade gira em torno de Ryan (Regina Hall) e Sasha (Queen Latifah), que no início de suas carreiras iriam criar um projeto juntas, mas quando Ryan investe em seu livro, acaba deixando sua parceira para trás. Sasha termina como uma blogueira de fofocas e está com problemas financeiros – coisa que passou longe do que ela realmente queria. Durante todo o enredo vê-se uma relação passivo-agressiva, como se as amigas sempre arrumassem uma desculpa para evitar essa conversa, mas grande surpresa: quando elas entram em conflito, o grupo todo também entra, nos levando a um clímax previsível em que tudo termina bem.
Apesar de estar criticando todos esses elementos, reforço o carisma desse elenco. Regina Hall mostra que consegue entregar muito mais do que sua icônica Cindy de Todo Mundo em Pânico. Ela passa as vulnerabilidades de sua personagem e acaba ensinando que não é dever de mulher nenhuma ser perfeita para ser bem sucedida, e que é preciso criar uma persona com que o público se identifique (e ninguém se identifica com perfeição).
Já Jada Pinkett Smith é a mãezona do grupo, mas acaba revelando seu lado selvagem e (pobre Jada!), acaba pegando as piores piadas do filme. Ainda assim, passa bons momentos para a audiência – Hollywood deveria dar mais oportunidades de atuação para ela. Queen Latifah é a única que entrega uma atuação confortável e mediana, mas afinal ela é quem ela é, e pode fazer o que quiser – com certeza não precisa mostrar serviço em um filme de comédia, já que é impecável em tudo que faz. Nem preciso falar mais sobre Tiffany Haddish, além do fato que, se ela não aparecer em outros trabalhos, eu causarei um incêndio em Hollywood. Ela é a estrela do filme e o mundo foi abençoado com o brilhantismo dessa atriz e ponto.
Concluindo, Viagem das Garotas é um bom entretenimento e, se você é do tipo palestrinha que não curte um pipocão, esse não é filme para você – nem sempre o cinema é obrigado a gerar filmes com grandes reflexões. Às vezes, tudo o que precisamos é levantar os pés e gastar um tempinho com uma história que não vai agregar nada além de boas risadas.
