O primeiro Rec, filme de terror espanhol lançado em 2007 é um dos melhores filmes de terror do século XXI, em especial pelo uso das técnicas do found footage, encontrando o dispositivo narrativo perfeito na forma do programa da repórter Angela Vidal (Manuela Velasco), cuja matéria sobre o trabalho dos bombeiros na madrugada a leva a encarar o inferno na terra quando ela fica presa em um prédio cheio de zumbis. A câmera como elemento diegético fornece toda uma camada de tensão, pois coloca o espectador no ali e agora da cena, no meio da confusão, caos e sangue.
Mas então as sequências vieram. Em 2009, Rec 2 colocou um pouco mais de ação no meio, apresentando agentes da SWAT como protagonistas e dando uma origem religiosa para aqueles acontecimentos. Rec 3 chegou em 2012 e poderia pertencer a uma franquia totalmente diferente, abandonando o found footage e favorecendo um humor à la A Morte do Demônio, só que sem a mesma graça e inventividade, até chegar a Rec 4: Apocalipse, que resgata um pouco do terror inicial, mas em um formato mais convencional.
No quarto episódio da franquia, disponível para streaming na Amazon Prime, Angela, após milagrosamente sobreviver aos eventos do primeiro filme, é levada para um navio onde um grupo de cientistas e militares tentam descobrir a cura para o misterioso vírus. Tudo parece sob controle até que um dos animais infectados, usado como cobaia, escapa, causando caos e destruição, e a protagonista precisará, mais uma vez, lutar para sobreviver.
Resgatar a repórter é uma manobra evidentemente apelativa por parte de Jaume Balagueró, diretor e roteirista desse episódio, já que a personagem é querida aos fãs do primeiro filme, só que esse retorno, além de tirar um pouco do impacto da conclusão de Rec, não funciona muito bem, já que não há muito sustento dramático na caracterização dela, pois esta já era bem simples no longa de 2006: ela era uma jovem repórter que caiu numa situação inimaginável, tentar elevá-la a uma heroína não se encaixa muito bem, e Balagueró até sabe disso, tanto que, pelo menos por metade do filme, a deixa mais como plano de fundo da trama.
Outra tentativa de resgatar o espírito do longa original é o cenário mais apertado do navio, similar ao do prédio. Após o cenário mais aberto do terceiro filme, porém, as possibilidades do cenário nunca são devidamente exploradas, e o ambiente poderia ser um laboratório científico qualquer. Não há uma articulação da claustrofobia e isolamentos inerentes ao cenário, assim há pouca tensão, e o máximo de inventividade se dá na forma que um motor de barco é usado.
Para disfarçar isso tudo, há uma aposta forte no gore, com baldes de sangue sendo espirrados na tela a todo momento, enquanto a câmera treme enlouquecidamente na tentativa de imprimir alguma visceralidade as cenas, mas até para tremer câmera tem que ter método, e se Rec transmitia desespero com seus enquadramentos erráticos, aqui é só confuso mesmo. Se há algo positivo em Rec 4, é que, se Rec 3 foi vergonhoso, este é meramente ruim.