Lady Bird: A Hora de Voar possui um universo simples, porém contemporâneo
Christine McPherson (Saoirse Ronan) está no último ano do high school e pretende fazer faculdade bem longe de sua cidade natal, Sacramento no estado da Califórnia. Mesmo sem o apoio da mãe para sair de casa e se mudar, Christine segue com seu sonho de fazer faculdade em qualquer cidade afastada da sua. Como um instinto de rebeldia e por conta de sua forte personalidade, a garota exige ser chamada de Lady Bird por todos, principalmente pela família.
Revisitando essa obra, consegui ter uma relação mais próxima do que quando a vi pela primeira vez – provavelmente isso se deve ao meu amadurecimento como crítico e pela percepção do verdadeiro poder dessa trama em retratar uma época muito importante na vida de todos.
Tratando-se de um drama/comédia adolescente, o filme sobressai a outros por focar em outros aspectos não tão convencionais. Na maioria das outras produções de mesma categoria, o ponto central normalmente gira em torno do dia a dia escolar e da importância de ser popular. Já em Lady Bird: A Hora de Voar, mesmo que esses pontos sejam tratados indiretamente, o núcleo central está focado na vida dessa jovem, relatando principalmente os problemas familiares, especialmente aqueles que envolvem sua mãe (Marion McPherson), que inclusive é uma das personagens mais fortes do longa.
Todo o arco dramático envolvendo a família de Christine é bem montado e tem um peso grande na história. O papel de Tracy Letts é bem utilizado para dar equilíbrio à personalidade forte de McPherson (Laurie Metcalf). Nesse caso, tal equilíbrio é necessário para dar constância a protagonista, que também possui um gênio forte.
Ao invés de usar a protagonista para desenvolver outros temas, a escolha assertiva que o roteiro faz é a de dar foco aos coadjuvantes nesses outros assuntos, o que não seria possível de se desenvolver em apenas um personagem- questões como o descobrimento e a autoaceitação, o valor de uma amizade de verdade e também a formação de caráter e personalidade. A forma com que o filme trata alguns desses subnúcleos foge do convencional ao ser abordado de maneira cômica.
As atuações não deixam a desejar, todos os atores se mostram empenhados em entregar o melhor de cada um. Um bom exemplo é Timothée Chalamet que fez parte de dois dos filmes mais aclamados de 2017 (Me Chame Pelo seu Nome e Lady Bird) e, nessas duas obras, se mostra não só um bom profissional como também sua versatilidade, conseguindo entregar o que promete. Aqui em Lady Bird seu papel é de grande importância para desenvolver a personagem de Ronan, fazendo com que a protagonista passe por várias situações que fazem o amadurecimento dela ser mais completo.
Por sua vez, Christine McPherson é um interessante papel de se analisar detalhadamente. Toda sua construção em torno desses dramas adolescentes condiz muito com a mentalidade da maioria dos jovens com essa idade, fora que, além de tudo, ela mora em uma cidade pequena, o que a deixa ainda mais agoniada e desconfortável com seu jeito de viver. O relacionamento conflitante que ela tem com sua mãe é interessante de se ver e às vezes pesado. Ronan parece ter sido escolhida a dedo para interpretar essa personagem. A atriz possui todas as características físicas e passa toda a carga emocional e rebelde de Christine.
De outro lado, o único problema que esse filme apresenta é o mal uso de Beanie Feldstein, que tem muito potencial, mas é subutilizada e, com isso acabam perdendo um ótimo personagem que poderia participar mais da história.
Portanto, Lady Bird: A Hora de Voar além de ser uma experiência cultural rica e muito gostosa de assistir, também apresenta um debate sobre assuntos pertinentes e importantes para serem debatidos, fora que esse longa é bem acessível para o público mais jovem.
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