Sempre que uma produção brasileira envolve o povo nordestino, o público tende a ficar de orelha em pé, porque retratar uma história nessa região geralmente rende bons momentos cinematográficos. O problema é quando uma pessoa não conhece bem local e, mesmo assim, decide arriscar fazer uma narrativa centrada nela ou que a envolva. Cabras da Peste chega na Netflix com uma proposta divertida, uma comédia policial que lembra bastante o aclamado Chumbo Grosso e outros filmes de ação do gênero buddy cop, pegando emprestado o mesmo tom de exagero exacerbado e cinismo cômico que a obra de Edgar Wright entrega. Então não é difícil comprar os absurdos propostos pela trama.
Porém, filmes de comédia nacional são uma aposta de sorte, já que uma obra pode ser muito boa, muito ruim ou medíocre. Dificilmente nos deparamos com uma história engraçada e inteligente em terras tupiniquins. Infelizmente, Cabras da Peste não alcançou a grandiosidade que estava mirando, ou o diretor e roteirista Vitor Brandt não tinha grandes ambições para seu filme – talvez ele quisesse que fosse apenas leve e engraçadinho. Soltando algumas piadas que até são criativas, o longa mostra como a nossa brasilidade pode ser carismática em qualquer gênero fílmico. A trama sabe arrancar boas risadas, mas logo em seguida a energia cai quando o roteiro toma um caminho fácil através de piadinhas clichês e xenofóbicas que só não são problemáticas porque saem da boca do nordestino.
Por outro lado, o elenco tem alguns rostos conhecidos que se destacam em seus determinados núcleos, mas a estrela do show é o Bruceuilis, interpretado de forma esplêndida por Edmilson Filho. Seu timing cômico é absolutamente impecável e mesmo em cenas medíocres ele é capaz de roubar a cena. A parte do interrogatório é uma das coisas mais engraçadas que você vai ver na semana. Ao lado dele há o talentosíssimo Matheus Nachtergaele, que é capaz de intimidar qualquer parceiro de cena, mas aqui acontece um fenômeno estranho: seu personagem, Trindade, é ofuscado por seu colega policial. Parece que falta inspiração à Nachtergaele, especialmente em momentos quando ele usa um tom de voz afetado que remete a dubladores de filmes de ação dos anos 80. Não entenda mal, ele entrega comédia, mas ela está bem contida.
Fora isso, a história não mostra muita novidade, a dupla precisa encontrar um mcguffin (que nesse caso é uma cabra) para prender bandidos muito perigosos. Um policial tem o perfil administrativo e se contenta com o trabalho burocrático, mas ao mesmo tempo deseja limpar seu nome. O outro vem de uma cidade pacata onde não acontece nada de interessante, mas se vê no auge da sua carreira quando tem a chance de provar que é um policial de verdade. Porém, o que preenche a narrativa realmente é o jeitinho brasileiro, com elementos ricos da personalidade do nosso povo. Só de ter o cantor Falcão é sinal de que o projeto sabe aonde quer chegar.
Como foi dito acima, o filme apresenta alguns problemas, mas nada que te impeça de ter momentos divertidos em uma tarde de domingo. Despretensioso e debochado, Cabras da Peste é um sinal de que o brasileiro pode ter alguma esperança em ver projetos mais ousados no futuro no streaming vermelhinho.
Respostas de 2
Falharam no início quando o pé de pano sai da casa do corno sem camisa mas em seguida aparece vestido em uma camisa rosa.
Hahahaha!