Ansiosamente aguardado, O Legado de Júpiter (Jupiter’s Legacy) finalmente estreou com a promessa de ser um The Boys (2019) da Netflix. Mas mesmo sem essa expectativa de ser o gêmeo não idêntico do sucesso da Amazon, a série se mostrou fraca e decepcionante, deixando a desejar em vários pontos que vão desde aspectos técnicos desagradáveis até os personagens pouco carismáticos.
Baseado em uma série de quadrinhos homônima, o enredo foca em um grupo de pessoas que recebem super-poderes para proteger a Terra. Anos depois, seus filhos problemáticos devem assumir a tarefa, mas nenhum deles está preparado para receber a responsabilidade. No entanto, será que eles mesmos estavam?
Assim como The Boys, O Legado de Júpiter se propõe a ser uma série que fala não sobre super-heróis em si, mas sobre capitalismo e indústria, e consegue faz isso, porém não com o mesmo sucesso. Dessa forma, ao longo de oito episódios, por meio de idas e vindas na linha temporal, acompanhamos a jornada dessa equipe liderada por Sheldon Sampson (Josh Duhamel), o Utópico, personagem que pode ser comparado a um Homelander (Capitão Pátria) às avessas que possui um senso de moralidade tão exacerbado e inflexível que passa a ser chato. E talvez tenha sido essa dinâmica não linear não muito bem trabalhada o que atrapalhou a experiência do expectador com relação à história.
Portanto, pode ser que se tivéssemos acompanhado a vida desses heróis enquanto jovens primeiro para depois vermos no que eles se transformaram, tivéssemos adquirido uma simpatia maior por eles. Do jeito que foi feito, porém, quando finalmente descobrimos os motivos de eles terem se transformado nas pessoas (e nos heróis) em que se transformaram, já é tarde demais para construir qualquer empatia – além disso, o figurino ruim (notadamente os uniformes) e a maquiagem não muito pior não ajudam em nada a conquistar o público.
Dessa forma, à medida que O Legado de Júpiter se desenvolve, o melodrama exacerbado de todos os núcleos assume o comando, sem nem mesmo o alívio do humor ácido que sempre tempera o enredo de The Boys. Temos a revoltada e eterna adolescente Chloe (Elena Kampouris), o melancólico Brandon (Andrew Horton) e o sisudo Hutch (Ian Quinlan), além de outros cujo tormento sombrio não tem qualquer brilho. Até mesmo o crack da bolsa de Nova York, que representa a consequência do sistema capitalista levado ao extremo, poderia ter sido melhor explorado, mas foi levado para um lado fantasmagórico mais voltado para o terror que não casou bem com a história. Por outro lado, a câmera nervosa que às vezes se mostra em ângulos distorcidos junto à boa trilha sonora são a melhor coisa da série, porém nem de longe possuem força suficiente para salvá-la.
O Legado de Júpiter também se volta muito para o conceito de dignidade como condição para se receber um grande poder, mas nenhum dos personagens em nenhum momento justifica esse valor. Muito pelo contrário, seus defeitos são claramente mostrados, mas a redenção nunca aparece. Tudo isso mostra quão fraca foi essa primeira temporada, mesmo que o final tenha deixado um leve gostinho de esperança para a próxima, se acontecer. Mesmo assim, não consigo enxergar um futuro muito brilhante para esses heróis melancólicos.