Atenção! Alerta de spoiler do episódio!
Pode-se dizer que o terceiro episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão foi o que mais apresentou nuances em relação aos seus personagens, camadas para torná-los mais humanos e forçar uma divisão do público entre os Pretos e os Verdes.
A evolução desses mesmos personagens tornam este episódio uma peça essencial para os fãs da série, especialmente aqueles que apreciam as sutilezas das tramas políticas e pessoais dos Targaryen e seus aliados.
Um primeiro vislumbre do que estar por vir na Dança dos Dragões
É verdade que a primeira cena do episódio, que apresenta a Batalha do Moinho Ardente, a primeira carnificina do período da Dança dos Dragões em Westeros entre os Bracken e os Blackwood, pode não ter satisfeito a ansiedade dos espectadores, que aguardam para ver a luta entre os próprios Targaryen e seus dragões.
A ausência de grandes batalhas na tela neste ponto da temporada cria uma expectativa crescente para os confrontos futuros, fazendo com que cada decisão e movimento estratégico dos personagens tenha um peso ainda maior.
No entanto, até agora, vimos uma Rhaenyra (Emma Darcy) irrequieta e ávida para encerrar a guerra de forma pacífica. A moça até arriscou a vida para se infiltrar em Porto Real e conseguir falar com a rival Alicent (Olivia Cooke), em um momento de grande tensão que evoca sentimentos antigos e também muito orgulho falando alto. Tudo deu errado, o que mostra que a morte de Luke e Jaehaerys foi um preço alto demais a pagar, mesmo pela paz.
Este encontro, ausente no livro original Fogo e Sangue, é uma adição significativa à narrativa da série, destacando a importância das relações pessoais no desenrolar dos eventos.
Emma D’Arcy e Olivia Cooke entregam performances poderosas que transmitem a complexidade de suas emoções. O encontro ocorre em uma igreja, um local sagrado e silencioso, que contrasta fortemente com a natureza tumultuada de sua discussão.
Ao se disfarçar de septã, Rhaenyra externaliza sua tentativa de buscar a paz e a reconciliação, apelando para a fé e a moralidade. No entanto, o seu verdadeiro propósito vai além de evitar a guerra; ela busca validação e respostas sobre o amor de seu pai, o falecido Rei Viserys. A necessidade de Rhaenyra de entender se seu pai realmente a amava ou se mudou de ideia ao favorecer Alicent é um ponto central deste confronto.
Alicent, por outro lado, se encontra em um estado de oração e contemplação, destacando sua própria luta interna. A chegada inesperada de Rhaenyra a coloca em uma posição defensiva, mas também revela sua vulnerabilidade. O diálogo entre as duas é carregado de significados ocultos, em que cada palavra e gesto contam uma história de dor, traição e esperança frustrada.
A cena termina com uma nota de ambiguidade, onde não há uma resolução clara ou reconciliação. Em vez disso, serve para amplificar a tragédia da situação, onde duas antigas amigas e aliadas se encontram em lados opostos de um conflito que ameaça destruir tudo o que amam.
Mas retomando, a decisão de mostrar as consequências dessa primeira batalha (a Batalha do Moinho Ardente), em vez do combate em si, sublinha a devastação que a guerra traz para todos os envolvidos. O enfoque nas repercussões humaniza o conflito, lembrando os espectadores de que, por trás das estratégias e das políticas, existem vidas sendo destruídas.
Damon e seus fantasmas
Mas talvez a cena mais inquietante seja a de Daemon (Matt Smith) na amaldiçoada Harrenhall, um local famoso por sua história de morte e destruição.
Harrenhal, com suas imponentes, mas deterioradas estruturas, não é um local acolhedor, mas Daemon o reivindica sem derramamento de sangue, mostrando sua habilidade de conquistar através da intimidação e da presença imponente. A submissão imediata de Ser Simon Strong, que rapidamente se ajoelha diante de Daemon e o oferece um jantar humilde, destaca a reputação temível do príncipe Targaryen.
No entanto, a vitória de Daemon em Harrenhal é apenas o começo de uma exploração mais profunda de seu estado emocional e psicológico.
Ao se instalar no castelo, ele começa a ter visões perturbadoras que revelam as camadas de complexidade e conflito interno que o personagem carrega. Uma das visões mais impactantes inclui a jovem Rhaenyra, interpretada por Milly Alcock, que reaparece costurando a cabeça de Jaehaerys de volta ao corpo. Esta cena não é apenas um retorno inesperado da jovem atriz à série, mas também um símbolo poderoso do trauma e da culpa que assombram Daemon.
As visões que Daemon experimenta em Harrenhal sugerem um processo de autoenfrentamento e reflexão que é raro ver no personagem até então. Conhecido por sua natureza impulsiva e muitas vezes violenta, Daemon é forçado a confrontar os fantasmas de seu passado e os horrores que o cercam. Este confronto interno é uma nova dimensão em sua jornada, permitindo ao público ver além da fachada de guerreiro implacável e entender as dores e arrependimentos que ele carrega.
A escolha de Harrenhal como o cenário para essas revelações não é acidental. O castelo, com sua história de maldições e tragédias, serve como um espelho para a alma atormentada de Daemon. A atmosfera opressiva e os vestígios de violência que permeiam o lugar amplificam a intensidade das visões, criando uma ligação entre o ambiente físico e o estado mental do personagem. A conquista de Harrenhal sem sangue, portanto, se torna uma metáfora para a luta interna de Daemon — uma batalha invisível mas profundamente sentida.
Em suma, a estadia de Daemon em Harrenhal não é apenas uma jogada estratégica, mas também um ponto crucial para seu desenvolvimento pessoal. As visões perturbadoras e a introspecção forçada revelam um lado mais vulnerável do príncipe Targaryen, oferecendo aos espectadores uma visão mais completa de um dos personagens mais intrigantes de “House of the Dragon”.
Aemond continua sendo ridicularizado
Mesmo depois de ter crescido e se tornado um dos maiores e temíveis guerreiros de seu tempo, o príncipe Aemond (Ewan Mitchell) continua sendo ridicularizado pela família.
Aegon não consegue parar de rir quando encontra o irmão nu e vulnerável, em um momento raro de intimidade e fragilidade que contrasta fortemente com sua persona pública de força e indiferença. Esta cena é um dos pontos altos do episódio, proporcionando uma visão profunda das motivações e emoções que moldam Aemond.
A diretora Geeta Patel utiliza esta cena para explorar a necessidade desesperada de Aemond por amor e aceitação. Ao encontrá-lo nu e em um momento de intimidade com uma prostituta, os espectadores são confrontados com a realidade de um personagem que, apesar de sua aparência dura e impassível, carrega uma profunda dor emocional.
Em entrevista à Variety, Geeta Patel explica que a nudez de Aemond na cena foi uma decisão consciente para mostrar sua vulnerabilidade: “O que Ewan fez de forma tão bonita foi permitir-se sentir naquele momento. Eu me lembro de estar em lágrimas enquanto filmávamos, porque a forma como ele retratou a dor de Aemond quando ela o olhou, senti o remorso e o arrependimento — algo que raramente vemos nele.” Essa vulnerabilidade não apenas humaniza Aemond, mas também lança luz sobre as razões por trás de suas ações impiedosas e calculadas.
Pode-se dizer, então, que a transformação de Aemond, de um jovem ferido para um guerreiro implacável, é uma narrativa de sobrevivência e autopreservação.
E quanto a Criston Cole?
Devo dizer que fiquei triste na cena emblemática em que Bailalua não comeu ou incinerou (ou as duas coisas) Criston Cole. Mas devo admitir que a nova Mão do Rei carrega consigo um peso significativo.
Interpretado por Fabien Frankel, Criston é um personagem que evoca fortes reações dos fãs. Ele é visto como um vilão por muitos devido às suas ações impiedosas e calculadas na primeira temporada. No entanto, Geeta Patel, a diretora do episódio, busca humanizá-lo, revelando suas vulnerabilidades e inseguranças. O começo do episódio mostra Criston lidando com uma crise de ansiedade antes de assumir seu novo papel, uma experiência que muitos podem relacionar à sensação de não estar à altura de grandes responsabilidades.
Seu embate (ou podemos chamar antipatia imediata e recíproca) com Gwayne Hightower, (Freddie Fox), irmão de Alicent, refletem as tensões entre alguém que nunca lidou com o poder, e alguém que está acostumado a ele. A tentativa de ambos de afirmar sua autoridade e lealdade revela a fragilidade das alianças e a volatilidade da política de Westeros.
Conclusão
Enfim, o terceiro episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão é um testamento ao poder das histórias bem contadas e ao talento de seus diretores e atores.
As camadas de intriga política, conflito pessoal e desenvolvimento de personagens fazem deste episódio uma peça fundamental para qualquer fã da série.
Com cada cena cuidadosamente construída, o episódio não só avança a trama, mas também aprofunda a conexão emocional do público com os personagens, preparando o terreno para os confrontos futuros na Dança dos Dragões.
Você já tem um lado nessa guerra?