Adar em Os Anéis de Poder
© Ross Ferguson / Prime Video

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O arco de Redenção de Adar em ‘Os Anéis de Poder’

Publicado 1 mês atrás
Adar em Os Anéis de Poder
© Ross Ferguson / Prime Video

Em uma reviravolta digna das melhores tragédias gregas, a segunda temporada de Os Anéis de Poder nos presenteou com um dos momentos mais poéticos e controversos da série: a possível redenção – e subsequente queda – de Adar, o autoproclamado pai dos Uruk. Como em O Poderoso Chefão, em que Michael Corleone tenta, sem sucesso, escapar de seu destino criminoso, Adar nos apresenta um dilema moral complexo que merece uma análise mais profunda.

Imagine Apocalypse Now, em que Kurtz representa a corrupção total da alma humana. Adar é nossa versão élfica de Kurtz – um ser que mergulhou nas profundezas da escuridão, mas que, diferentemente do coronel de Coppola, manteve um fiapo de sua antiga natureza. Como um personagem saído de Dostoiévski, Adar carrega consigo a dualidade entre luz e trevas, entre sua herança élfica e sua natureza corrompida.

O momento do anel: Verdade ou manipulação?

Quando Adar coloca Nenya em seu dedo, testemunhamos uma cena que poderia facilmente fazer parte de O Retorno do Rei. O poder do anel revela sua forma élfica original, um momento que ecoa a transformação inversa de Gollum de hobbit para criatura. Mas será que esta revelação representa sua verdadeira essência ou é apenas mais uma máscara?

Esta cena nos remete a O Cisne Negro, em que realidade e ilusão se misturam de forma magistral. A aparência élfica de Adar poderia ser tanto sua verdadeira natureza emergindo como uma elaborada performance – afinal, como dizem em Westworld, “esses prazeres violentos têm fins violentos”.

Assim, o destino final de Adar carrega uma ironia shakespeariana: ser morto pelos mesmos “filhos” que ele tanto alegava proteger, através do mesmo tipo de manipulação que ele próprio utilizou contra Sauron. Como em O Poderoso Chefão, em que a violência sempre retorna para assombrar seus perpetradores, Adar colhe o que plantou em seus séculos de existência.

Adar em Os Anéis de Poder
© Ben Rothstein / Prime Video

A questão da redenção

Mas a verdadeira questão que paira é: podemos considerar Adar redimido? Se pensarmos em arcos de redenção como os de Darth Vader ou Severus Snape, notamos que a redenção geralmente vem acompanhada de um sacrifício final. No caso de Adar, seu último ato – devolver o anel e oferecer aliança contra Sauron – poderia ser visto como este momento de sacrifício.

No entanto, como em Blade Runner, em que a natureza dos replicantes permanece ambígua, a verdadeira natureza de Adar e suas intenções permanecem um mistério. Sua história nos faz questionar se a corrupção pode ser verdadeiramente revertida, ou se, como o Um Anel, deixa marcas permanentes em seus portadores.

O arco final de Adar representa uma das narrativas mais complexas e nuançadas de Os Anéis de Poder. Como um filme de Christopher Nolan, sua conclusão nos deixa com mais perguntas que respostas, e talvez seja exatamente isso que a torna tão fascinante.

Se sua redenção foi verdadeira ou não, Adar nos deixa com uma reflexão profunda sobre a natureza do mal e a possibilidade de redenção. Como Gandalf uma vez disse, “até mesmo o mais sábio não pode ver todos os fins” – e talvez seja essa a beleza da história de Adar: sua ambiguidade nos permite contemplar os tons de cinza que existem entre a luz e a escuridão.

Seu fim trágico nos lembra que, como em todas as grandes histórias, da literatura ao cinema, a redenção nem sempre significa um final feliz, mas pode significar um final relevante. E talvez seja isso que Adar finalmente conseguiu: um final que, embora trágico, deu sentido à sua existência conflituosa.

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