Artigo | GOT vs Harry Potter – Um crossover mágico

Vamos fazer uma brincadeira? Que tal um crossover de Game of Thrones com Harry Potter? Imagine se Melisandre, nossa querida sacerdotisa vermelha, tivesse estudado em Hogwarts. De qual Casa ela seria?

Muitos poderão dizer que a resposta é fácil, ‘Sonserina, claro!’. Mas será? Talvez não seja tão simples assim. Se a feiticeira tivesse enfrentado o rigoroso processo de seleção da Escola de Magia e Bruxaria, o Chapéu Seletor poderia ter tido dificuldades para encontrar um lugar para ela, assim como aconteceu com o próprio Harry.

Desta forma, desde a leitura de A Pedra Filosofal, fomos condicionados a olhar com desconfiança para a Sonserina, afinal, como fica bem claro tanto nos livros como nos filmes, a maioria dos bruxos das trevas saiu daquela Casa. Mas basta um olhar um pouco mais apurado para saber que nem sempre é assim.

Pode ser que, nesse crossover hipotético, Melisandre fosse selecionada para a Sonserina? Claro! Mas pode ser que não. Vamos considerar a questão tomando como base o famoso poema do velho artefato:

(…)

“Quem sabe sua moradia é a Grifinória

Casa onde habitam os corações indômitos

Ousadia e sangue frio e nobreza

Destacam os alunos da Grifinória dos demais.”

Ao analisar a primeira Casa de Hogwarts, já de pronto se pode perceber que Melisandre se encaixa perfeitamente nas características dos grifinórios, uma vez que seu coração não é nem um pouco manso e ousadia não lhe falta – muito pelo contrário!

Quanto ao sangue frio… preciso dizer alguma coisa? O primeiro ato da sacerdotisa nas Crônicas de Gelo e Fogo é matar o pobre Meistre Cressen de Pedra do Dragão. E o que pensar sobre a pobre Shereen Baratheon, de quem a doçura a escamagris não conseguiu roubar e cuja morte precoce também foi arquitetada pela mulher vermelha, numa das cenas mais cruéis e tristes de Game of Thrones?

E apesar disso, durante todo o tempo, a feiticeira ostenta naturalmente uma postura que lhe garante o ar de nobreza e altivez que só uma verdadeira rainha possui.

Grifinória, Chapéu Seletor? Sim, ela poderia se dar muito bem lá. Duvido, no entanto, que faria amizade com Harry, Rony ou Hermione na Sala Comunal. De Hermione então a feiticeira seria inimiga mortal. Um embate entre as duas seria certamente interessantíssimo de se ver, sendo que conjecturar sobre quem sairia vencedora é matéria para outro artigo.

Sigamos em frente em nossa difícil análise.

“Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar

Onde seus moradores são justos e leais

Pacientes, sinceros, sem medo da dor”

Não posso dizer que Melisandre seja exatamente justa, mas ela certamente é leal a seu deus, o implacável Rhollor. Sua lealdade, porém, se limita a ele, e a avaliação do Chapéu poderia ser bem rigorosa quanto a isso, mas vai saber.

Quanto à sinceridade, também não se pode dizer que essa é uma das virtudes da mulher vermelha. Por outro lado, a paciência e o destemor em relação a dor com certeza lhe pertencem, afinal, ela suportou uma gravidez e um parto bizarro em que deu à luz uma sombra assassina e adulta (que até matou o Renly, lembra?) e até que feiticeira sofreu bastante por sua fé cega numa divindade poderosa e estranha.

Mesmo assim, se Melisandre fosse para a Lufa-Lufa, seria um membro destoante da Casa do texugo negro, porém quem sabe poderia se encaixar.

Vejamos mais.

“Ou será a velha e sábia Corvinal

A Casa de quem tem a mente sempre alerta

Onde os homens de grande espírito e saber

Sempre encontrarão companheiros seus iguais”

É. Essa última parte talvez desse ao Chapéu o motivo para eliminar rapidinho a Corvinal das possibilidades. Melisandre pode até ter a mente sempre alerta e ser bem esperta, mas encontrar um companheiro igual a ela não parece ser uma coisa que ela quisesse ou mesmo que pudesse encontrar. Ela é uma personagem bem singular.

Além do mais, os sacerdotes vermelhos parecem sempre procurar pessoas diferentes e, porque não dizer, “inferiores” a eles em conhecimento e poder (são como os meistres: em cada castelo só há um).

Thoros de Myr é outro exemplo a ser destacado. No grupo de Beric Dondarrion não há outro sacerdote que não ele.

Ademais, associar um grande espírito à feiticeira é forçar um pouco a barra.

Corvinal não, né Chapéu?

Vamos continuar.

“Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa

E ali fará seus verdadeiros amigos

Homens de astúcia que usam quaisquer meios

Para atingir os fins que antes colimaram”

(…)

Finalmente chegamos à Casa da Serpente onde bem precipitadamente a maioria do público de Harry Potter e Game of Thrones colocaria Melisandre. Seria ela uma sonserina?

Já vimos que verdadeiros amigos ela não tem, quanto a isso não resta qualquer tipo de dúvida, porém, não lhe falta astúcia e por óbvio que ela usaria de quaisquer meios para atingir os fins que antes colimaram. A mulher vermelha provou isso inúmeras vezes durante as Crônicas.

Além disso, Salazar Sonserina seria o tipo de “deus” que Melisandre seguiria ou, no mínimo, admiraria, muito mais do que a simpática Helga Lufa-Lufa ou a inteligente Rowena Corvinal. E mais ainda, a astúcia que aquele bruxo fundador tanto prezava também está presente na personalidade da feiticeira.

Mas aquele coração indômito de Godrico Grifinória é o que pode, enfim, fornecer o xis da questão. Sendo assim, não há como esquecer um dos símbolos mais marcantes das Crônicas, um que foi tantas vezes mencionado, costurado em estandartes e cosido no peito de gibões: o coração flamejante de Rhollor, a divindade do fogo por quem Melisandre matava e também fazia reviver.

Ademais, quem leu ou assistiu A Câmara Secreta sabe que arma de Grifinória é nada mais nada menos do que uma espada, aquela mesma que Harry usa para matar o basilisco e salvar Gina e tantos outros da morte. Ora… Alguma correspondência com a Luminífera, a espada em fogo do Azhor Ahai, herói que a feiticeira tão desesperadamente buscava e por quem tinha obsessão? Nesse crossover, isso não seria mera semelhança.

Por fim, verdade seja dita, caro leitor! Fosse eu o Chapéu Seletor, poderia até demorar um pouquinho, mas quando abrisse a boca para anunciar a Casa da Melisandre, minha decisão seria vermelha e dourada:

Grifinória!

Afinal, a noite é escura e cheia de horrores, e só o coração indômito, a ousadia e o sangue frio poderão enfrentá-la.