Crítica de filme

Crítica | 7 Prisioneiros

Publicado 3 anos atrás

Através das informações que possuímos, é possível afirmar que The Power of the Dog (Ataque dos Cães) é efetivamente a principal aposta da Netflix para o Oscar 2022 – ao menos até agora. Esse conhecimento é relevante à presente crítica pelo fato de 7 Prisioneiros ter sido vendido para o streaming; o longa dirigido por Alexandre Moratto era para muitos o favorito para representar o Brasil no Oscar que vem aí, especialmente por ter fechado com a empresa que vêm acumulando prêmios da academia desde a metade da década passada. 

No entanto, no dia 15 de outubro desse ano foi anunciado que, na verdade, o escolhido para representar o país na disputa por uma vaga na categoria de melhor filme internacional era Deserto Particular de Aly Muritiba. Essa escolha faz sentido especialmente se tivermos em perspectiva o fato de que a Netflix provavelmente não estaria disposta a apostar tanto na pouca probabilidade de uma indicação do filme estrelado por Rodrigo Santoro e Christian Malheiros – tendo foco voltado para estatuetas mais importantes, como a possível vitória de melhor filme para a obra de Jane Campion.

Em busca de uma vida melhor, Mateus, um rapaz humilde de uma cidade pequena, e outros jovens aceitam trabalhar em um ferro velho em São Paulo, porém, todos logo percebem que foram enganados e caíram em uma rede de trabalho escravo. Olhando para esse cenário, o garoto decide se unir ao seu captor e se tornar seu braço direito, mesmo sofrendo com grandes conflitos morais.

Na primeira cena do filme vemos o protagonista martelar tábuas de madeira na casa onde cresceu e isso funciona como uma interessante metáfora: a tábua protege e delimita um determinado território onde quem por ela está guardado é dono. É uma espécie de materialização sensível da zona de conforto, de um espaço de segurança e de amparo, ambiente de delimitados valores morais e religiosos. Ao sair para a grande metrópole, Mateus deixa para trás as tábuas recém marteladas, representando a retirada do ninho, mesmo que elas ainda estejam bem sedimentadas, quase como uma edificação verificável de seus princípios.

O tempo passa e o personagem principal descobre todo o esquema envolto no personagem Luca. Em busca de uma vida melhor para sua família, ele então se afilia a seu chefe – como explicitado na péssima sinopse acima. Isso pode mostrar que com o tempo a madeira, como é natural, é corroída. Longe de casa, longe do erguimento palpável de sua moral, a madeira que antes fora construída com vigor, foi desgastada com o tempo. 

No fim do longa temos uma decisão (não entrarei em spoilers) que demole a madeira já fadada à ruína. Se afastando geográfica e simbolicamente da construção da primeira cena do filme, o arco de Mateus é concluído com um plano olhando pra frente, apesar de tudo. 

O filme não é perfeito, atingindo em seu auge uma mediocridade com bom potencial, mas que nunca sai do mundo das ideias. A direção é pouco inspirada, apesar de fazer um trabalho de distinção entre a primeira e a segunda parte da história, com segmentos bem delimitados e propostas diferentes. 

Porém, apesar da modestidade ordinária, 7 Prisioneiros, vale seu tempo por trazer à tona uma discussão interessante e importante, além de ser um filme nacional que teve um certo nível de sucesso internacional – participando inclusive do prestigiado festival de cinema de Veneza.

O longa está disponível no catálogo da Netflix, assista e tome suas próprias conclusões (além de fortalecer um pouco do cinema brasileiro – que parece necessitar desse apoio mais do que nunca).

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7 Prisioneiros
País: Brasil
Idioma: Português

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