Ellie (Felicity Jones) é uma jornalista machucada por um relacionamento tóxico. Ao mesmo tempo em que tenta se curar, ela acaba descobrindo cartas de amor misteriosas e resolve investigar o caso com a ajuda do arquivista Rory (Nabhaan Rizwan). Passado e presente se entrelaçam então em A Última Carta de Amor (The Last Letter from Your Lover), novo romance que estreou recentemente na Netflix.
Só de saber que o longa é baseado na obra homônima de Jojo Moyes, autora do celebrado Como Eu Era Antes de Você (Me Before You), já dá para ter noção do que esperar – uma história saída de um coração romântico clássico, bem daquele estilo que Hollywood adora! E assistindo ao filme, nota-se como a diretora Augustine Frizzell captou o espírito da escritora.
No entanto, diferente de Como Eu Era Antes de Você, em que Emilia Clarke encarna a meiga Lou e vive seu intenso romance com Will (Sam Claflin), em A Última Carta de Amor Felicity Jones e Shailene Woodley interpretam duas mulheres apaixonadas, porém cada uma a sua época.
Nessa linha de raciocínio, é possível constatar que o mérito do filme está inegavelmente na forma como a cineasta, usando de subterfúgios simples, consegue retratar a diferença do mundo na década de 1960 e a atual, não somente no figurino deslumbrante que Woodley usa e na ambientação extremamente eficiente de meados do século passado, mas principalmente na maneira como os relacionamentos se davam antes e agora. Ao assistir às duas histórias simultaneamente, essas diferenças saltam ainda mais ao olhos. São detalhes como o fato de o romantismo das cartas terem sido substituídos pela praticidade do WhatsApp, ou também da convivência forçada de um casamento por conveniência ter dado lugar à relativa solidão da liberdade vazia.
É claro que A Última Carta de Amor não é o maior romance que já existiu, mas se destaca justamente por essa mistura de gerações, trazendo as histórias de tempos mais antigos que tanto agradam ao público (lembram do sucesso que as novelas de época faziam por aqui?) junto de um enredo passado em tempos atuais. Agora, qual delas você vai preferir, se a de Ellie ou a de Jennifer (Woodley), deixarei você decidir!
O estilo de Moyes está mais para melodramático, como bem sabemos, mas de alguma forma, há algo de especial em revisitar, pela mão de Frizzell, esse estilo de história que uma vez dominou o cinema hollywoodiano e que, portanto, criou milhões de clichês. Num mundo onde cada aspecto da vida das pessoas está escancarado nas redes sociais, é simplesmente arrebatador constatar os mistérios que uma caixa postal “secreta” pode guardar.
E tomando por base uma determinada cena de A Última Carta de Amor, me veio aquela analogia que compara a vida à uma viagem de trem. Ela começa e termina numa plataforma qualquer. Já dizia Milton Nascimento em sua música Encontros e Despedidas, que pode, por incrível que pareça, resumir toda a película:
“Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida”
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Nem sei se vou ver o filme,mas a crítica está ótima, inspiradora.Parabens.
Muito obrigada, Flávio!