Retratar a vida árida e ao mesmo tempo cativante do sertão brasileiro exige uma sensibilidade única, e Agreste, dirigido por Sérgio Roizenblit, cumpre esse desafio com uma visão profunda e poética. O filme se passa em uma vila nordestina isolada, onde os personagens enfrentam a dura realidade da seca e a luta pela sobrevivência em meio ao isolamento. Desde o início, a direção de Roizenblit se destaca ao explorar como a fé, a cultura e as relações humanas mantêm viva a esperança, mesmo em condições tão adversas.
Maria (Badu Morais), a protagonista, carrega o peso dessa história em uma atuação que transborda resiliência e espiritualidade. Morais dá vida a uma mulher que, apesar das adversidades, encontra força na fé e nos laços familiares. Ao seu lado, Etevaldo (Aury Porto) e Valda (Luci Pereira) agregam ainda mais profundidade à narrativa, representando outras facetas da resistência e identidade sertanejas. A atuação de Porto, em especial, carrega uma vulnerabilidade que contrasta com a dureza do ambiente, enquanto Luci Pereira encarna a solidez de uma mulher que conhece intimamente o peso da tradição.
O visual impactante de uma história longe de ser monótona, ‘Bastardo’ tem grandes chances de endereçar a estatueta dourada para a Dinamarca.
Visualmente, o sertão se torna quase um personagem no filme, com uma fotografia em tons quentes que capta tanto a aspereza quanto a beleza da paisagem. Roizenblit utiliza essa dualidade para dar dimensão aos conflitos internos de seus personagens, que parecem refletir no horizonte vasto e desolador. Assim, o cenário natural amplifica o estado emocional dos habitantes da vila, oferecendo um pano de fundo que é tanto um desafio quanto uma fonte de identidade.
A trilha sonora é igualmente marcante, composta por sons locais e canções tradicionais que reforçam a autenticidade do ambiente. Esses elementos sonoros, colocados nos momentos apropriados, não apenas intensificam a imersão do público, mas também despertam uma conexão cultural com o nordeste brasileiro. Dessa forma, a trilha sonora atua como uma extensão dos personagens, carregando suas histórias e dores.
Com seu ritmo contemplativo, Agreste leva o público a uma reflexão sobre a persistência cultural e a força das crenças em tempos de escassez. Os diálogos são carregados de significado, e as interações entre os personagens abordam temas como a resiliência e a fé, especialmente quando as circunstâncias desafiam a sobrevivência.
Agreste destaca-se, portanto, como um retrato fiel do sertão e de seu povo. Roizenblit celebra a simplicidade da vida e a resistência silenciosa de seus personagens, oferecendo uma poesia visual que emociona e inspira, ao mesmo tempo em que homenageia a força humana no coração do Brasil profundo.