Crítica de filme

Alien: Romulus

Com sucesso, 'Alien: Romulus' pega o que há de melhor no filme anterior, Alien e atualiza para o século XXI.

Pedro Tao

16/08/2024 •

13:27 •

4

É possível introduzir valores novos a uma franquia velha? É necessário esse movimento para modernizar uma saga tão querida? Alien: Romulus vai beber de um aspecto do original que atraiu poucos olhares e se torna uma das mais positivas surpresas do ano.

Em Alien (1979), logo de início, uma noção trabalhista fica logo clara: dois dos operários braçais comentam o tempo todo sobre seus respectivos pagamentos, da insegurança de que talvez ele não virá. Essa condição, da troca de seus serviços por, muitas vezes, nada, é o que motiva Rain (Cailee Spaeny) em Alien: Romulus a aceitar uma espécie de trabalho por conta própria que alguns amigos propõem. 

Isso porque, após completar suas horas obrigatórias e, teoricamente, ficar livre de seu contrato, Rain vê uma burocrata aumentar seu número mínimo para o dobro, protelando sua alforria. Presenciamos um mundo no qual não existem indivíduos, apenas a força sem-rosto de seus trabalhos.

Esse mundo é desolado e poluído, trabalhadores morrem após entrar em contato com substâncias tóxicas durante o emprego. O diretor Fede Álvarez constrói essa ambientação com uma textura esfumaçada, suja, as imagens parecem carregadas de poeira e melancolia de forma indissociável.

Ao lado de seu androide particular, Andy, que possui como diretriz sempre protegê-la, como um irmão, Rain é convocada por jovens amigos dispostos a fugir dessa realidade, coletando vestígios de uma nave que sobrevoa o espaço acima deles.

Andy é capaz de falar “Mãe”, uma linguagem utilizada pelos robôs desse mundo para se conectarem ao computador das naves espaciais e, por isso, é imprescindível na missão. Um dos momentos de terror do filme é exatamente quando, depois de ser atualizado, Andy “veste a camisa da empresa” e abandona a diretriz de proteção à irmã, defendendo exclusivamente os interesses da companhia Weyland-Yutani, que, obviamente, são completamente distintos daqueles dos jovens exploradores.

É um espírito que lembra a identidade da Warner, do seu início até ali nos anos quarenta, de uma programação que conversava muito com um público proletário, sobre seus medos e anseios, usando suas lentes para encarar o mundo. Aqui, o vilão é a corporação, que não se importa com as vidas ou o bem estar de quem opera as máquinas que trarão lucro. O uso de andróides no universo Alien sempre foi interessante porque o pragmatistmo da inteligência artificial não se interessa por salvar quem está em perigo, mas sim em concluir missões atribuídas pela empresa, e, ainda assim, esses corpos sintéticos, ao longo de toda a saga, enxergaram muito valor na figura do Xenomorfo, que o descrevem como o organismo perfeito. 

Isso atinge o ápice na figura de David em Prometheus e Alien Covenant, filmes que são rechaçados mas possuem uma característica muito positiva que se manifesta em Romulus: seus visuais e fisicalidade. Em Covenant há uma cena que é tratada como chacota, quando duas personagens deslizam e caem no chão graças ao sangue que jorra das costas de um infectado. Porém, essa sequência denota o quanto a materialidade desse mundo importa, que um sangue não é apenas um recurso estético, mas nele contém uma noção profundamente diegética. Ele existe, interage e modifica o espaço no qual aparece. 

Em Romulus, Fede Alvarez se importa muito com a arquitetura das naves e os trajetos que as personagens fazem, além da materialidade do sangue, dessa vez dos Xenomorfos. Uma das melhores sequências do filme é quando Rain tem um fuzil futurista para lidar com uma horda de Xenomorfos, mas o sangue ácido da criatura vai destruir o chão da nave. A solução de Rain é desligar a gravidade do recinto e disparar, o que faz com que o sangue flutue e, contornando o líquido mortal, torna-se possível a travessia.

Tendo esse mote trabalhista, aliado a um pensar muito artesanal em sua concepção visual – o filme se orgulha de seus efeitos práticos -, Alien: Romulus pega o que há de melhor no primeiro Alien, do subtexto ao materialismo, e atualiza pro século XXI. Essa parece ser a tônica da escolha por Fede, diretor que já havia tentado o mesmo em A Morte do Demônio (2013), porém, aqui, o sucesso é imediato.

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Nota do(a) autor(a)

4

5/5
alien romulus poster

2024

119 min

País: EUA

Diretor(a): Fede Álvarez

Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux

Idioma: Inglês

Nota do(a) autor(a)

4

5/5
alien romulus poster

2024

119 min

País: EUA

Diretor(a): Fede Álvarez

Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux

Idioma: Inglês