Crítica de filme

Armadilha

Publicado 3 meses atrás
Nota do(a) autor(a): 2.5

M. Night Shyamalan está de volta com mais um thriller, Armadilha, que reflete a montanha-russa que é sua carreira. Neste filme, Shyamalan acerta em diversos aspectos, mas também comete deslizes que podem comprometer a experiência do espectador, especialmente aqueles que esperam um desfecho sólido e uma narrativa sem lacunas.

A direção continua astuta, com Shyamalan utilizando uma estética visual que ressalta o clima de tensão e mistério. A escolha cuidadosa do uso de figurantes e cenários intimistas cria uma atmosfera claustrofóbica que aumenta a ansiedade em torno dos personagens. O diretor também demonstra domínio da iluminação, utilizando sombras e luzes suaves para intensificar o desconforto e a paranoia crescentes ao longo da trama. Em muitos momentos, a câmera se aproxima dos personagens de maneira fluida, quase voyeurística, intensificando a sensação de que algo está à espreita, uma técnica recorrente nos filmes do diretor.

Shyamalan brilha em cenas que remetem aos seus filmes anteriores, com seu estilo característico de criar tensão a partir de silêncios e olhares, ao mesmo tempo em que tenta subverter suas próprias convenções. Assumindo uma postura de “anti-Shyamalan”, ele brinca com as expectativas do público ao evitar certos clichês que normalmente marcaram sua filmografia. No entanto, essa tentativa de ir contra o próprio estilo acaba, em alguns momentos, tornando o filme refém de uma narrativa pragmática e previsível. Embora Armadilha proponha uma premissa intrigante, o roteiro por vezes se perde em conveniências e atalhos narrativos que minam a profundidade emocional dos personagens.

A trama de Armadilha exige que o espectador suspenda a descrença e se entregue à história. Ela se concentra em um pequeno grupo de pessoas que se veem presas em uma situação cada vez mais perigosa, onde a linha entre o real e o imaginário se confunde. David (Josh Hartnett), por exemplo, é o pai de família que, embora pareça inicialmente calmo e protetor, revela-se cada vez mais paranoico e tenso à medida que a trama se desenrola. Hartnett consegue transmitir de forma convincente a dualidade do personagem, em um misto de desespero e coragem. Outro ponto alto do elenco é Lady Raven (Saleka Shyamalan), uma popstar cuja participação no segundo ato do filme é vital para o desenrolar da história. A atriz brilha em momentos que exigem maior carga emocional, trazendo complexidade à personagem.

No entanto, apesar de seus méritos, Armadilha acaba tropeçando em suas próprias ambições. As falhas narrativas, especialmente no terceiro ato, podem frustrar parte do público, principalmente aqueles que esperam um clímax mais impactante. A resolução parece apressada e pouco satisfatória, deixando pontas soltas que comprometem a coesão da história. Para os fãs de Shyamalan, no entanto, o filme traz elementos familiares que reafirmam sua habilidade em criar atmosferas intrigantes e personagens que lidam com dilemas psicológicos profundos.

No final das contas, Armadilha é um filme que exige paciência e atenção. Ele oscila entre momentos de brilhantismo na direção de Shyamalan e armadilhas narrativas que podem frustrar alguns espectadores. Para quem é fã do diretor, vale a pena conferir os elementos que tornaram sua filmografia tão singular, mas para o público geral, a experiência pode ser mais agridoce. Assista, tire suas conclusões, mas mantenha os pés no chão.

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Armadilha poster

Armadilha

Trap
14
País: EUA
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Idioma: Inglês

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