Filmes de super-heróis já se tornaram um gênero tão comum quanto a comédia, o drama e o romance. No período de um ano é possível que os estúdios lancem seis ou mais filmes do tipo nas salas de cinema. Por conta disso, a fórmula já é bem conhecida e está cada vez mais difícil surpreender o público de massa que não acompanha graphic novels e histórias em quadrinhos, já que não tem muito o que inovar – exceto quando são projetos mais ousados, como a série The Boys, da Amazon, e a futura trilogia do Homem Aranha no Aranhaverso, da Sony. Mas o que esses projetos têm de chamativo são justamente as características que os grandes estúdios ficam cheios de dedos para aplicar: a ousadia e a liberdade criativa, elementos mais do que essenciais para encorpar uma obra. E quando falamos da DC, seus projetos têm sido iguais a uma roleta russa – ou são muito bons ou são péssimos.
Então, para qual lado Besouro Azul pendeu mais?
Antes de responder a essa pergunta, devo parabenizar a Warner Bros. e a DC por finalmente organizarem o seu universo heroico. Se eles continuarem a investir em projetos como Besouro Azul, é capaz de nascer uma esperança para que as futuras adaptações dos quadrinhos sejam mais consistentes em qualidade e menos roleta russa.
No longa, o recém-formado Jaime Reyes (Xolo Maridueña) volta para casa, no México, cheio de esperanças para o futuro. Infelizmente, as coisas não estão exatamente estáveis na vida de sua família. Enquanto procura alternativas para sair das dificuldades financeiras e encontrar seu propósito no mundo, o destino intervém quando, inesperadamente, recebe a responsabilidade de guardar uma antiga relíquia da biotecnologia alienígena: O Escaravelho, que o escolhe como hospedeiro, dando a ele um exoesqueleto mecanizado e poderes imprevisíveis, transformando-o no Besouro Azul.
Já foi reforçado que não tem como mudar tanto a fórmula desse gênero, e Besouro Azul não tem nada de novo a respeito de narrativas heroicas. Aqui o destaque fica no relacionamento do protagonista com sua família e a relevância que a cultura latina recebe – e sem filtro amarelo.
Já fiquem avisados – não é necessariamente um spoiler –, mas serão comentados alguns pontos positivos na jornada de Jaime, então se vocês querem entrar no cinema de paladar limpo, podem pular o próximo parágrafo.
Possíveis spoilers à frente
Algo que é muito comum quando falamos de super-heróis, é a caminhada solitária que ele (ou ela) enfrenta. As dificuldades de descobrir esses novos poderes, controlá-los e lidar com eles em segredo e sem nenhum suporte emocional faz parte do drama pessoal. A descoberta de Jaime foi acidental como 90% dos protagonistas do gênero, mas desde o princípio sua família viveu essas descobertas junto com ele e realmente lhe deu o suporte que conseguia, revelando os pontos fortes de cada membro da família. Pra mim, essas inserções não pareceram forçadas, porque nem sempre a pessoa tem a opção de manter certas coisas em sigilo. Ao longo da trama, nos afeiçoamos cada vez mais por cada indivíduo da família de Jaime, e por mais que existam ameaças, não é todo herói que tem o privilégio de ter um porto seguro em casa – só conseguimos ver as consequências do manto.
Fim dos spoilers
Sei, no entanto, que a maior curiosidade do público brasileiro vai ser a respeito da nossa atual representante em Hollywood, Bruna Marquezine. Sua personagem, Jenny Kord, existe para ser a mocinha destemida, e nisso, a atriz não deixou a desejar. Não posso destacar uma atuação fora da curva, porque não foi isso que o papel pediu. A boa notícia é que tem bastante espaço para a Bruninha crescer caso Besouro Azul tenha uma ou mais continuações. Confesso que tive flashbacks da época de lançamento de 300 e o quanto torcemos para Rodrigo Santoro ir bem no papel para sentir orgulho de ver nossa terrinha destacada lá fora. Só podemos esperar que o retorno de bilheteria seja alto o suficiente para a DC continuar investindo. Mesmo porque, é bom ter um protagonista latino pra variar, e seria uma grande lástima perder esse destaque.
E já que estamos falando de investimento, os efeitos especiais são outro ponto forte do filme. Acredite, chega ao ponto de te deixar na ponta da cadeira pra não perder nenhuma cena de ação.
Susan Sarandon como Victoria Kord está lá, existindo apenas para fazer a vida de Jaime e sua família mais difícil. E ela tem um capanga bem apelão e genérico para criar esses obstáculos, só que não passa disso. Infelizmente, criar um vilão carismático é dez vezes mais difícil do que um herói carismático e não tenho total certeza se é algo com que os estúdios querem gastar tempo pra fazer. Vai ter vilão com objetivo raso sim, e a gente que lute! E só por causa disso, o filme merece uma nota três em cinco.
Concluindo, vale a pena ainda ir ao cinema para assistir ao Besouro Azul justamente pela motivação mais clichê possível: la familia!