Dizem que as maiores tragédias resultam em grandes histórias. E se formos levar em conta obras como Romeu e Julieta e, bem mais recentemente, a série Chernobyl (2019), da HBO, não fica difícil perceber porque essa máxima se torna tão verdadeira.
Não é que as duas obras tenham qualquer coisa a ver uma com a outra, mas ambas são construídas em cima de grandes desfortúnios, tendo como a maior diferença a escala da desgraça. No entanto, chegando aos cinemas com o mesmo nome do seriado de enorme sucesso, Chernobyl – O Filme, do diretor russo Danila Kozlovskiy, ainda em início de carreira como cineasta, está muito mais para o romance do casal mais famoso da história da humanidade (e isso não é um spoiler, por razões óbvias) do que para um maior realismo na representação da tragédia nuclear na Ucrânia, na década de 1980, como foi a série. Sim, pode haver certa confusão por parte do público, cuja tendência é deduzir que o longa é a versão fílmica do seriado – ou no mínimo um continuação. Mas não estamos diante de duas obras que se conectam de qualquer maneira.
Aqui acompanhamos a história de Alexey Karpushin (Danila Kozlovskiy), um dos heroicos bombeiros que trabalharam em Chernobyl depois da fatídica explosão da usina nuclear. Dessa forma, a trama está muito mais focada em um drama pessoal do que uma história mais documental, como foi o caso do seriado.
Com isso em vista, a análise pode ser feita, e a primeira coisa que se pode dizer é que, para uma segunda obra, Kozlovskiy não fez feio. O filme é bem feito tecnicamente falando, não há o que reclamar quanto a isso. Assistimos aos eventos diante de uma fotografia mais “nublada” que tem tudo a ver com a nuvem radioativa que tomou conta do Norte da Ucrânia Soviética depois do desastre. A maquiagem, algo imprescindível nessa história, também não deixa a desejar e nem as competentes trilha sonora e atuações.
O mesmo não pode se dizer do enredo, no entanto. Mesmo levando em consideração as grandes diferenças nos formatos para a TV e para as telonas e o fato de um ser praticamente um documentário e o outro um romance, é difícil não comparar a película em análise com a série de 2019, uma vez que ambas possuem o mesmo contexto. No confronto entre as duas produções, o seriado é superior em todos os sentidos, mas principalmente na trama, sendo que o filme apresenta um enredo consideravelmente superficial, o que destoa imensamente de seu longo tempo de duração – 136 minutos. Nesse ínterim, a maior dificuldade, e o que considero a maior falha, reside em se criar uma conexão maior com os personagens.
Dessa forma, a trama arrastada de Chernobyl não é ruim. Entrega o que promete e faz isso com certa competência. No entanto, como já demonstrado há dois anos atrás, existe coisa melhor por aí…