O final da primeira década do século XXI parecia anunciar a ascenção do ator Ed Helms ao panteão dos grandes comediantes do cinema. Revelado em uma das séries de maior sucesso dos últimos tempos, The Office, onde até foi alçado a relativo protagonismo nas temporadas finais, e parte integrante da inesperada franquia milionária Se Beber, Não Case, o ator estava destinado às grandes produções. No entanto, os anos subsequentes não foram tão favoráveis ao talentoso ator, geralmente protagonizando filmes que apenas tentaram emular seus sucessos anteriores. Até projetos aparentemente certeiros, como o remake de Férias Frustradas, falharam em agradar público e crítica. É nesse panorama que chegamos a Coffee & Kareem, nova produção original da Netflix estrelada pelo ator.
Dirigido por Michael Dowse (Stuber – A Corrida Maluca, Será Que?) e escrito por Shane Mack em seu primeiro roteiro para um longa metragem, Coffee & Kareem conta a história do policial Coffee (Helms) que, para agradar sua namorada (Taraji P. Henson), decide passar mais tempo com o filho dela, Kareem (Terrence Little Gardenhigh). Ele, por sua vez, é um menino desbocado aspirante a rapper de 12 anos e que não vai aceitar tão facilmente que o namorado da sua mãe seja um policial. Na tentativa de assustar Coffee, Kareem vai fazer com que se envolvam em uma trama repleta de traficantes e policiais corruptos.
Assim como Troco Em Dobro, recém lançado pela própria Netflix, Coffee & Kareem aposta em uma trama que remete ao filão dos filmes de buddy cop (aqueles filmes em que dois personagens antagônicos se unem para solucionar um crime) que tiveram seu auge nos anos 80 e 90, mais especificamente no filme Um Tira e Meio (1993), com Burt Reynolds. Até a identidade visual e trilha sonora do filme remetem à época. Com isso, o filme tenta se apoiar na química entre o policial adulto e a criança espertalhona para garantir a maioria das suas risadas. E por química, leia-se trocas de diálogos com o maior número de palavrões possíveis (a sua maioria proferido pelo jovem Gardenhigh). Esse artifício acaba por cansar rápido o espectador, já que por mais talentoso que os atores sejam, não apresentam nenhuma evolução ao longo do filme. Além disso, prejudica na empatia que o público possa vir a ter por Kareem. A impressão que fica é de um personagem apenas irritante quando deveria ser engraçadinho em sua falta de educação. Adicione a isso piadas homofóbicas e temos uma receita fácil de como detestar um personagem.
O elenco até se esforça para extrair alguma graça do roteiro batido e preguiçoso. Além de Helms, temos que destacar a atuação de Betty Gilpin (excelente na série Glow) – no papel da encarregada da polícia de ir atrás da dupla principal -, e a sempre confiável Taraji P. Henson, no papel da mãe de Kareem e namorada de Coffee. Mesmo sem muito tempo de tela, as duas conseguem adicionar alguma diversão ao filme.
Apelando até para o gore na intenção de fazer graça, o longa realmente parece o retrato de uma época que não mais vivemos, e sem a desculpa de ser um “produto do seu tempo”. Não deixa de ser curiosa a ligação desse filme com o diretor Todd Philips (da franquia Se Beber, Não Case e Coringa), ainda mais com suas recentes declarações em relação a dificuldade de se fazer comédia hoje em dia devido ao que ele chama de “politicamente correto”. Tais filmes continuam a serem feitos, mas o gosto desse café está cada vez mais amargo.