Crítica de filme

Crítica 2 | Ambulância: Um Dia De Crime

Publicado 3 anos atrás
Nota do(a) autor(a): 4.0

Michael Bay é um diretor de estilo inegável. Facilmente reconhecido por seus planos dourados, sua câmera incessante e uma quase fetichização das forças armadas americanas, o diretor estava em baixa recentemente. Seus últimos filmes, Transformers: O Último Cavaleiro e Esquadrão 6 levantaram dúvidas sobre a capacidade de Bay em nos apresentar novos espetáculos pirotécnicos. No entanto, a chegada de Ambulância — Um Dia de Crime mostra que o diretor não só continua firme e forte mas também está na vanguarda das técnicas cinematográficas, mesmo que alguns dos seus posicionamentos problemáticos ainda o acompanhe.

O longa conta a história de Will Sharp (Yahya Abdul-Mateen II), veterano de guerra abandonado pelo governo e soterrado em dívidas por causa do estado de saúde da esposa, que decide procurar seu irmão de criação, Danny (Jake Gyllenhaal), em busca de uma oportunidade de emprego. A tal oportunidade, no entanto, é um ambicioso roubo a banco que pode sanar a questão financeira de Will para sempre. O golpe dá errado e, na fuga, acabam sequestrando uma ambulância com a socorrista Cam (Eiza González) e um policial ferido por eles mesmos dentro. As próximas duas horas abarcam a corrida desenfreada de Will e Danny para escapar da situação enquanto toda a força policial de Los Angeles segue em seu encalço.

Ambulância Um Dia de Crime
Jake Gyllenhaal e Yahya Abdul-Mateen II em ‘Ambulância Um Dia de Crime’ © 2021 Universal Studios. Todos os direitos reservados.

Bebendo dos grandes filmes de ação dos anos 90, como Velocidade Máxima, e até de seus próprios filmes, que chegam até a ser referenciados em momentos cômicos (tanto A Rocha quanto Bad Boys são mencionados), Ambulância — Um Dia de Crime não perde muito tempo contextualizando sua história para que entremos na ação o quanto antes. Em menos de meia hora tudo é estabelecido para que a perseguição se torne a grande estrela do filme.

E é aí que Michael Bay brilha. O longa é hábil em sempre aumentar o escopo de sua situação primordial sem que haja uma perda da nossa suspenção de descrença. Exageros são esperados, obviamente, mas Bay consegue imprimir um realismo que até o espectador mais cricri vai ter dificuldade de dizer “que mentirada”. Graças aos drones usados na filmagem, estamos sempre acompanhando a ação de perto, entrando por lugares antes impossíveis para câmeras tradicionais. Por vezes tem-se a sensação de estar a bordo de uma atração de parque de diversões, em um daqueles simuladores de caminhos sinuosos em alta velocidade.

Ambulância
© 2021 Universal Studios.

Bay ainda usa seus drones para fazer tomadas vertiginosas, subindo os arranha-céus de Los Angeles para depois chicotear sua câmera para baixo em um rasante alucinante até onde se encontram os personagens. A cidade, por sinal, é um personagem ativo na película. Não a toa que o próprio título do filme marca as letras LA em reconhecimento à cidade. A diversidade cultural do lugar e, em alguns momentos, até seu abandono estão ali retratadas junto à arte de rua. A ambulância de Will, Danny e Cam cruza pelas suas vias como um glóbulo vermelho pelas veias de uma cidade, ao mesmo tempo pulsante e caótica.

Complementando a ação, o trio principal esbanja competência para segurar o lado emocional da trama. Yahya Abdul-Mateen II e Eiza González são a bússola moral do filme, heroicos mesmo quando tomam as decisões erradas. A Cam de Eiza ainda possui um arco mais definindo, indo de alguém que vê o que faz apenas como um trabalho qualquer até reconhecer a diferença que exerce na vida daqueles que salva. Reparem que de três personagens, dois estão do mesmo lado. Porque para balancear essa equação Jake Gyllenhaal eleva a psicopatia de Danny à máxima potência, sendo um dos pontos altos do filme. A alternância entre a calma e a loucura de seu personagem é a fonte das melhores piadas do longa.

Ambulância
Eiza Gonzalez em ‘Ambulância – Um Dia de Crime’ © 2021 Universal Studios. Todos os direitos reservados.

Em relação aos temas tratados, Bay parece não se decidir exatamente de que lado está em algumas questões sociais representadas no longa. Enquanto mostra o personagem de Will como um Rambo moderno, o veterano que é abandonado pelo Estado após servir o país, ele não exista em exaltar o exército dizendo que este lhe “deu um propósito” e que “sabia exatamente o que estava fazendo lá fora”. A força policial, há tempos no centro de escândalos envolvendo brutalidade a minorias, é ora retratada como heróis mitológicos, filmados de baixo para cima, ostentando carros e armamentos impecáveis, quase o que se chama atualmente de “copaganda” (em que uma obra tende a mostrar a polícia em uma luz mais favorável em contraste com acontecimentos recentes, vide Brooklyn 99), ora mostrados como inconsequentes, vingativos, dispostos a virar a cidade de cabeça pra baixo para salvar um dos seus. Seriam esses indícios de uma visão mais progressista na filmografia?

Entretanto, essas questões ficam em segundo plano em relação à adrenalina e À força da ação. No final das contas, a locomotiva de Michael Bay não pode parar.

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Ambulância
País: EUA
Direção: Michael Bay
Roteiro: Chris Fedak
Idioma: Inglês

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