Um trauma e o fim iminente da raça humana na Terra. Seria essa mistura suficiente para deixar qualquer um louco? Seria a fuga na própria mente a única saída possível? A resposta pode parecer óbvia, mas você nunca vai encontrá-la quando se trata de Kurt (Hayden Christensen), um veterano de guerra que busca a sobrevivência precária quando mudanças climáticas anunciam o fim do mundo.
Uma análise dupla pode ser feita quando analisamos o título do filme de Rodrigo H. Vila, uma em sua versão adaptada para o português, e outra na versão original em inglês. O Último Refúgio pode muito bem significar que a mente de Kurt é, obviamente, sua última opção de fuga.
Já quando olhamos para The Last Man, fica fácil imaginar que o protagonista é realmente o último homem de um mundo pós-apocalíptico, solitário em meio ao caos e a destruição. Tudo o que ele vê (e, consequentemente, tudo o que nós vemos), portanto, podem ser projeções de sua consciência desesperada. Seriam Jessica (Liz Solari), seu interesse amoroso, e Noe (Harvey Keitel), seu guia, reais?
Sendo assim, é até difícil decidir se O Último Refúgio é um filme eficiente em sua proposta, ou pretensioso em seu resultado, afinal, Vila optou por fazer um filme noir quando isso não era necessário e, no entanto, o estilo casou perfeitamente com a estória apresentada.
O longa trata, obviamente, das coisas da mente, e nada pode ser mais complexo do que isso. Contudo, apesar de interessante, falha em qualquer aprofundamento, correndo pela tangente de seu tema sem nunca conseguir mergulhar de verdade nele, muito diferente de outros filmes de mesmo mote que viraram clássicos, como Matrix e A Origem.
Porém, no que trata das tecnicidades, não há muito o que reclamar. O caos do mundo (ou da mente do protagonista) está bem representado na fotografia escura de ambientação urbana, a pouca luz é bem utilizada, o figurino e a maquiagem também não fazem feio, mas, como dito, não há nada que se destaque.
Todo o problema se encontra mesmo no roteiro pouco cativante e de pouca expressão. O protagonista nunca se define, nem mesmo como uma mente perturbada – e existe um quê de super-herói que incomoda; o vilão é fraco e desinteressante; e a femme fatale, apesar de boa, pouquíssimo explorada.
Tudo isso se traduz numa conclusão triste, já que O Último Refúgio tinha bastante potencial. Deixar as questões tratadas no ar para que o espectador tire suas próprias conclusões não é novidade e, muitas vezes, se resolve em uma técnica eficiente ou, no mínimo interessante. No entanto, essa flutuação no não real ficou extremamente sem sal, para dizer o mínimo.