O lançamento de Morte no Nilo acontece dois dias depois da divulgação dos indicados à 94ª edição do Oscar e, tendo testemunhado o filme de Kenneth Branagh inspirado na obra literária homônima de Agatha Christie, a única questão que fica é: por que a película não está ali em nenhuma categoria?
Ora, não é preciso ser nenhum Hercule Poirot para determinar os motivos. Já há algum tempo que a decadência das premiações do audiovisual é perceptível e o Oscar, por ser a maior delas e ter o maior alcance, é com certeza a mais afetada. Como bem observou a crítica Isabela Boscov em seu mais recente vídeo, a Academia se encontra cada vez mais longe do público, estagnada e defasada.
Assista ao vídeo de Isabela Boscov aqui
Somam-se a esse fato as recentes acusações de abuso sexual e canibalismo contra um dos protagonistas do longa, o ator Armie Hammer, e a pandemia, que atrasou seu lançamento (inicialmente programado para 2019), e a campanha do filme para figurar nas alturas foi por água abaixo.
Ei-las então as terríveis razões para a ausência da película da lista recém-publicada da Academia. De outra forma, a obra teria mais do que potencial para estar lá e com grandes chances de levar vários prêmios.
Sequência do excelente Assassinato no Expresso Oriente, e tão (ou mais) excelente quanto, Morte no Nilo segue o grande detetive Hercule Poirot em mais um de seus casos – a investigação do assassinato de uma jovem herdeira ocorrido em sua própria lua de mel.
É até difícil saber por onde começar a explicar a perfeição da obra de Branagh, mas tendo sido inteiramente filmado com uma Panavision 65mm, vocês podem esperar a mais alta qualidade de captura de imagem widescreen possível. A fotografia, portanto, é de tirar o fôlego, concentrada principalmente em imagens do Egito e do rio que dá nome ao filme.
É difícil não reparar também na simetria dos planos e na perfeição das locações, uma vez que, afinal, estamos falando de uma estória que atravessa a vida de uma bilionária que tem o mundo a seus pés. E essa bilionária chamada Linnet Ridgeway é vivida por Gal Gadot, cujo par romântico é o belo Simon Doyle, vivido pelo malfadado Armie Hammer, e cuja antagonista é Jacqueline de Bellefort, vivida por Emma Mackey, uma surra de beleza e elegância que encanta qualquer um.
Porém beleza não é tudo. Para atingir o “tudo” é necessária também uma boa história, o que nos foi proporcionado por Agatha Christie em primeiro lugar e depois pela maravilhosa releitura de Branagh.
E no entanto, alguns poderão dizer, com certa razão, que Morte no Nilo perde muito tempo com as preliminares e que a própria investigação do crime ocorrido é rápida demais. Ouso discordar de antemão com essa análise não só porque os próprios contos de Christie tendem para essa forma de abordagem, mas porque a película de jeito maneira perde dinamicidade, credibilidade ou qualidade por tal fato.
E quando o crime finalmente acontece e a investigação por fim tem início, mais uma mágica tem lugar. À já referida simetria se juntam as atuações espetaculares dos atores e a filmagem assombrosa de Branagh, que usa de dinâmica e ângulos precisos, passeando não só pelos cenários, mas pela própria expressão dos indivíduos. Parece até que estamos assistindo a um jogo de xadrez, em que os personagens precisam se mover de determinada maneira para manter o mistério e nos deixar mais curiosos.
Quem é o assassino? Essa pergunta nos persegue continuamente em várias estórias, mas nessa, ela é colocada num contexto mais do que interessante e, sem dúvida, estonteantemente belo. O Oscar vai ter que ficar de lado! Quem vai embarcar nesse navio?
