Crítica de filme

Crítica | A sátira colossal de ‘Não Olhe Para Cima’

Publicado 3 anos atrás

Uma comédia que prevê o fim do mundo com três ganhadores do Oscar e dois indicados ao maior prêmio do cinema no elenco, Não Olhe Para Cima (Don’t Look Up), da Netflix, é simplesmente um filmaço, seja qual for a intenção que Adam McKay teve com ele – e esta foi fazer uma crítica, ou melhor, uma sátira aos que chamam de negacionistas.

Retrato perfeito do mundo atual, a história segue uma dupla de astrônomos que descobre que um cometa de mais de nove quilômetros de diâmetro está vindo em direção ao nosso planeta e, em seis meses, irá colidir com ele e destruir todas as formas de vida, bem no estilo do evento que dizimou os dinossauros, antigos habitantes da Terra.

Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio fazem o papel dos profissionais sérios e capacitados que querem alertar a humanidade e principalmente as autoridades – as únicas que podem tentar fazer alguma coisa -, da ameaça iminente que se acerca.

No entanto, como mostra tanto o enredo como nossa realidade, nada disso importa, porque quem manda no mundo, ao contrário do que muitos podem acreditar, não é o/a presidente dos Estados Unidos, mas os donos das grandes organizações, no filme representadas pela empresa que Mark Rylance dirige.

Sabendo que mesmo que o pior ocorresse ele e alguns outros gatos pingados estariam a salvo de qualquer maneira e que, na melhor das hipóteses, ficaria ainda mais rico, Peter Isherwell (Rylance) resolve criar uma narrativa que dá às pessoas uma falsa sensação de segurança, calando as vozes daqueles que têm a real autoridade no assunto.

É essa falsa narrativa que causa uma espécie de fragmentalidade na sociedade, uma sensação de irrealidade, um corte seco entre os que enxergam e aqueles que escolhem não enxergar, estes últimos condenando e arrastando o resto da humanidade ao caos e às últimas consequências.

Os cortes entre-cenas do filme também são assim, secos, ilustrando essa fragmentalidade, mostrando esse craquelamento que, de tão real, é cômico! E temos que rir para não chorar… ou para não surtar, como Kate (Lawrence) e Randall (DiCaprio) fazem em algum momento durante o filme.

Ademais, a fotografia do longa é linda, apresentando inclusive algumas imagens em 4k, e a caracterização dos personagens também é impressionante. E as cores fazem o seu papel perfeitamente. Por exemplo, é possível saber a que partido político a presidente Orlean (Meryl Streep) pertence e, em consequência, qual deles McKay apoia e qual a crítica que ele quis fazer.

A aparência de DiCaprio e Lawrence – esta última lembrando bastante um tipo de Lisbeth de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, como brilhantemente aponta o personagem de Jonah Hill – também faz parte de todo o jogo do filme. Afinal, porque alguém preferiria acreditar na Garota da Tatuagem de Dragão no que no todo poderoso bilionário da empresa da maior arma política que o ser humano já criou, a telecomunicação?

Sim. Não Olhe Para Cima está classificado como comédia e nada poderia ser mais brilhante e político, uma sátira, Lawrence e DiCaprio representando os personagens mais importantes do circo, os palhaços, aqueles que possuem o know-how, mas nem um pingo de poder. Também é brilhante porque é um filme democrático, uma vez que vai conseguir criar todo o tipo de interpretação, mas principalmente de distorção. Como eu disse, tem que rir para não chorar.

É o fim do mundo que se aproxima. Um cometa se acerca cada vez mais. Os que não querem ver dominam. Será que é tarde demais? Só o tempo, ou fim dos tempos dirá.

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Não Olhe Para Cima Poster

2021

138 min min

País: EUA

Elenco: . Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett

Idioma: Inglês

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