‘As Filhas do Dr. March’, ‘Mulherzinhas’, ‘Adoráveis Mulheres’. Todos são títulos para a história escrita por Louisa May Alcott sobre quatro irmãs em meados do século XIX que, já tendo sido adaptada para o Teatro e a TV, agora, no final de 2019 ganha outra versão para o Cinema.
O título mais adequado para o filme, se fôssemos traduzir literalmente do original, Litlle Women, seria Mulherzinhas, como em Portugal, mas aqui, no Brasil, optou-se por Adoráveis Mulheres, com um adjetivo mais do que adequado para retratar as protagonistas Meg, Jo, Beth e Amy, as irmãs March.
Assim, olhando para a história de Alcott, é fácil constatar porque o filme da diretora Greta Gerwig está sendo tão aclamado pela crítica e figurando na lista de indicações das maiores premiações do Cinema. É que até hoje, mais de um século e meio depois de publicado, seu tema continua atual.
Porém, para que a película funcionasse, seria preciso uma atriz forte para viver Jo March que, dentre as quatro irmãs, é a que tem maior destaque. E foi o que aconteceu. Não deve ter sido difícil para Gerwig optar por Saoirse Ronan, com quem já tinha trabalhado em Lady Bird (2017), longa que concorreu ao Globo de Ouro, ao Oscar e ao Critics’ Choice Movie Awards de Melhor Filme e que rendeu à atriz sua terceira indicação ao Oscar de Melhor Atriz. E quando juntaram-se a ela Meryl Streep, Laura Dern e Timothée Chalamet, formou-se a constelação.
Tudo estava certo, então, para que Adoráveis Mulheres se tornasse grande. Tínhamos uma história notável, um elenco de peso, uma diretora de renome… E mesmo assim, o longa não empolga. É como se fosse um bolo feito com os melhores ingredientes cujo sabor, no entanto, não resulta em nada maravilhoso.
Assim, vejamos. Gerwig utiliza a montagem com maestria, principalmente quando vai e volta na linha do tempo – usando muito o amarelo vibrante no passado caloroso e feliz das irmãs March, e tons azulados mais sombrios no presente triste, tudo para representar o estado de espírito da família. O roteiro, bem amarrado e bastante inteligente, coloca Jo no papel da própria Alcott, fazendo-nos entender o que a autora enfrentou quando enfim quis publicar seu livro (teve que mudar o final da história para atender à sociedade paternalista em que vivia). E podemos somar a isso a atuação impecável do elenco estelar, como já dito.
Mas ainda assim faltou aquele “quê” que faz os olhos brilharem, o coração saltar e o queixo cair. Que “quê” é esse não sei dizer, mas sua ausência faz toda a diferença. O bolo é bom, como não poderia deixar de ser, já que é feito com o que há de melhor, mas o gosto não é tão doce que nos faça suspirar.
Uma resposta
Penso que o que faltou no filme foi ser mais orgânico. Ele é tão empenhado em ser “empoderado” que até se tornou cínico, sem mencionar o desrespeito com a trama do livro em vários pontos.