O Brasil vem de duas excelentes produções recentes que merecem todo o reconhecimento. A comédia Me Tira da Mira (Hsu Chien Hsin, 2022) e a comédia romântica Incompatível (Johnny Araújo, 2022) são obras que não deveriam passar batido por nenhum de nós, brasileiros, já que são dois belíssimos exemplos de seus gêneros.
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E aí veio Águas Selvagens, uma coprodução entre Brasil e Argentina com uma proposta totalmente diferente, mas mesmo assim, interessante. A estória segue Lúcio Gualtieri, interpretado pelo ator uruguaio Roberto Birindelli, um ex-policial cético de hábitos poucos saudáveis que aceita trabalhar numa missão na fronteira entre Argentina, Uruguai e Brasil, uma região selvagem e inóspita. Enquanto ele se envolve cada vez mais em uma malha de crimes muito piores do que ele pensava, seu destino se entrelaça com o de três mulheres, Rita, Blanca e Debora, todas interpretadas por atrizes brasileiras, Mayana Neiva, Allana Lopes e Leona Cavalli, respectivamente.
No entanto, a sinopse ser interessante, é a única coisa que se pode salvar desse trabalho, porque de resto… digamos que é tenso! Para começar, a ação é pouquíssima para um filme policial em que o protagonista está “em campo”. Em segundo lugar, a trilha sonora pouco contribui para criar qualquer tipo de tensão. E em terceiro lugar, nem o roteiro nem a direção ajudam a contar bem a estória intrigante proposta. Monótonos, cansativos, pouco instigantes.
Fora isso, venhamos e convenhamos que é difícil uma obra dar certo quando o protagonista não possui qualquer carisma, como é o caso aqui. Os vícios e a depressão de Guatieri – que está sempre suado, desgrenhado, fumando loucamente e bebendo sem parar – praticamente eclipsam o seu lado bom, porque mesmo em quase duas horas de filme, a forma como o personagem é construído impede qualquer aceitação maior.
Parece, portanto, que o filme, a princípio policial, quer ser mais introspectivo e mergulhar nos problemas do protagonista, mas falha categoricamente nessa tentativa, flutuando nos temas de prostituição e tráfico de forma rasa e, porque não dizer, nada selvagem! O fato de o quarto de hotel de Gualtieri ser o principal cenário do filme em vez das florestas e estabelecimentos onde o crime rola solto parece confirmar esse pensamento.
E o que dizer então quando até as tramas paralelas e os personagens secundários, que poderiam (e até deveriam) ajudar na construção da narrativa, também são mal construídos e pouco contribuem? Eu diria que aconteceu até mesmo um desperdício de um bom elenco.
A verdade, no entanto é essa: a média do termômetro dos filmes nacionais, até agora num patamar bem alto, diminuiu, mas fica aqui o convite para você se arriscar nessas Águas Selvagens.