Crítica de filme

Crítica | ‘Amor, Sublime Amor’ de 2021 não é um remake, é uma celebração

Publicado 3 anos atrás
Nota do(a) autor(a): 4,7

O que fazer quando você se depara com um filme tão exuberante que lhe faltam palavras, ou ao menos uma organização de pensamentos para tecer um raciocínio a respeito? Amor, Sublime Amor (West Side Storyde 2021 incorpora essa característica e muito mais. Pode parecer uma tarefa fácil escrever sobre um filme que é excelente, mas nesse caso, beira o insuportável! E por que isso? Quando um filme não entrega todo o seu potencial, a tendência é separar os pontos fortes e fracos e fazer uma análise racional do porquê aquela história não alcançou o que se propôs, especialmente em casos de reboots

No entanto, aqui não temos um material fonte qualquer, trata-se de um dos maiores clássicos americanos – inspirado em uma das maiores tragédias literárias. Consegue acompanhar o raciocínio histórico? E estamos apenas no segundo parágrafo!  Amor, Sublime Amor é um musical que gera discussão, debate, assuntos de TCC e inspiração na Broadway até hoje, e continuará fazendo por muitos anos, graças a Steven Spielberg. A partir do momento que ele nos apresenta esse projeto, fica complicado manter a compostura para não criar uma carta de sete metros, cheia de purpurina e frufru, do tipo que a gente fazia na escola repetindo a frase ‘eu te amo’.

Amor, Sublime Amor
Ariana DeBose como Anita © Niko Tavernise – 2020 Twentieth Century Fox Film Corporation. Todos os direitos reservados.

Não é preciso conhecer a bagagem do clássico para viver essa experiência, mas garanto que será muito melhor se você parar 30 minutos da sua vida para dar uma zapeada na dimensão da história. E ninguém poderia liderar esse longa além de Spielberg – que  foi alvo de uma das maiores demonstrações de ‘como você ousa?’ em matéria de remake, já que, assim que foi anunciada a sua visão, todos ficaram com o pé atrás, mesmo diante de sua experiência cinematográfica. Apesar das inseguranças, todas foram jogadas pela janela no primeiro take de Amor Sublime Amor. O aclamado diretor não precisava provar nada a essa altura da carreira dele, mas caramba, ele foi lá e provou que um remake pode ser grandioso se idealizado por alguém com a ousadia e paixão cinematográfica. Ele te sequestra para uma experiência sensorial de uma forma tão hipnótica que é impossível desviar o olhar ao menor risco de tédio. 

Enquanto fazia minhas pesquisas para esse texto, pude notar um comentário que se repetia entre os fãs mais aficionados da sétima arte que dizia o seguinte: “esse filme é a razão por que eu amo cinema”. A magia acontece quando a curiosidade é despertada o suficiente para buscar algumas respostas sobre determinadas escolhas na direção, e quando elas chegam, esse amor pelo cinema ganha dimensão! Por exemplo, em algumas partes do filme não há legenda nos diálogos em espanhol, e por um momento eu achei que fosse algum erro na exibição. Olha como uma coisa pequena nos leva acreditar que aquilo é um erro! Assim que eu percebi o que o diretor queria, não consegui conter um sorriso ao imaginar o público estadunidense vendo isso no cinema e não poder fazer nada! 

Amor Sublime Amor funciona tão bem que supera seu antecessor de 1961, mas sem diminuí-lo ou depreciá-lo. Na verdade, esse remake faz o que nenhum outro fez ou fará tão cedo: ele engrandeceu o enredo de Tony e Maria, o orgulho porto-riquenho e as injustiças raciais que os imigrantes sofriam na pele dos chamados “nascidos americanos”. Apesar dos números musicais e passos de balé, você fica na ponta da cadeira o tempo inteiro, porque sabe o que está em risco no confronto entre os Jets e os Sharks. Aquela aura de ameaça e violência é muito mais pungente aqui do que na versão clássica. E nem toda a esperança refletida no amor de Tony e Maria pode impedir uma vida sofrida em um mundo discordante e barulhento de meados do século passado após duas guerras mundiais causadas por ódio e racismo.

Amor, Sublime Amor
Mike Faist como Riff e David Alvarez como Bernardo © Niko Tavernise – 2021 20th Century Studios. Todos os direitos reservados.

A história sabe encantar e amedrontar, já que somos convidados a compartilhar a vida de cada personagem, nos importar com eles e suas dificuldades. Torcemos com todas as forças para que um daqueles jovens crie bom senso para correr atrás de uma vida melhor e ficamos de coração partido porque eles vão até às últimas consequências para, quem sabe, aprender alguma lição de toda aquela tragédia. Essa, que chegou ao seu clímax por conta de uma dança entre uma porto-riquenha e um polaco.

Assim como Romeu e Julieta, Tony (Ansel Elgort) e Maria (Rachel Zegler) se apaixonaram à primeira vista, mas por conta das circunstâncias, seu romance estava fadado ao fracasso, não por culpa deles, mas sim, pelo cenário! E é lindo ver como o amor deles desabrocha em meio ao caos. Contudo,  preciso criticar um ponto desse projeto: a escolha do protagonista. Apesar de Tony encorpar todas as características de bom moço querendo se regenerar, existem momentos em que seu intérprete é engolido em cena, especialmente por Rachel Zegler. A atriz é capaz de transmitir todas as nuances emocionais de uma adolescente se envolvendo com  um rapaz totalmente diferente de seu mundo.

Amor, Sublime Amor
Ansel Elgort como Tony e Rachel Zegler como Maria © Niko Tavernise – 2021 20th Century Studios. Todos os direitos reservados.

Maria demonstra estranheza, receio, esperança, raiva e etc, enquanto Ansel é consistente em sua cara de bobo, não oferecendo a reciprocidade de um rapaz apaixonado e impulsivo inspirado em Romeu. Pelo menos não à altura de sua parceira de cena, que entregou absolutamente tudo! E eu me pergunto, ‘será que não tinha um estagiário pra soltar o nome de Taron Egerton na escolha desse elenco?, que aliás, foi um triunfo! 

Anita (Ariana DeBose), Bernardo (David Alvarez) e Riff (Mike Faist) são o coração de uma Nova Iorque em sua essência. Os três antagonistas mostram o bom, o ruim e o feio do sonho americano, igualmente marcantes em seus personagens. Mas o destaque foi para Ariana  DeBose, que fez justiça a sua antecessora, Rita Moreno – que nesta versão ganhou um papel muito especial, selando a benção da versão de 1961 para a visão de Spielberg. 

Amor, Sublime Amor
Rita Moreno ©  Niko Tavernise – 2020 Twentieth Century Fox Film Corporation. Todos os direitos reservados.

Eu não poderia concluir esse texto sem destacar o design de produção, a fotografia e as coreografias, que são os principais estímulos sensoriais que eu falei no início. São esses elementos que insistem em segurar sua atenção, e Steven sabe aproveitar cada um deles, afinal, é um projeto que o cineasta sempre almejou e, quando conseguiu concretizá-lo não poderia inserir nada além de paixão. 

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Amor Sublime Amor Poster
País: EUA
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner, Arthur Laurents
Idioma: Inglês, Espanhol

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