Brooke (Victoria Justice) não acredita no príncipe encantado, nem quando ele está bem na sua frente… ou é seu próprio marido! E mesmo assim, até o príncipe encantado pode sofrer concorrência de vez em quando, não é mesmo? Parte do elenco de Shadowhunters (2016-2019) se junta em Traição e Desejo (Trust), do diretor Brian DeCubellis, longa baseado na peça Push, de Kristen Lazarian, para contar uma estória que considero paradoxal – o filme é muito fraco, mas não dá para parar de assistir sem saber o que vai acontecer.
O enredo segue Brooke, uma galerista, e seu marido, Owen (Matthew Daddario), que veem seu casamento ser posto à prova com a chegada de um artista misterioso e tentador. Quando um começa a duvidar da fidelidade do outro, essa estória começa a tomar novos rumos.
Antes de tudo é preciso entender qual foi a intenção de DeCubellis com sua obra. Transformá-la em um tipo de 50 Tons de Cinza ou (baixando mais um pouco o nível) 365 Dias? Não, o filme não chega a tanto. Ser uma comédia romântica, talvez? Acho que está um pouco acima disso. Existe um limbo aí que é difícil de classificar.
Fato é que, durante toda a película existe uma aura de sedução e desejo que é impossível de ignorar e admito que sua base é muito bem construída, mas, em primeiro lugar, todo o enredo boia na superficialidade e os problemas de roteiro são inúmero, além das atuações medianas da maioria do elenco.
Vindo diretamente de Emily em Paris, Lucien Laviscount entrega uma interpretação mais do que caricatural de seu personagem, Ansgar, o pintor em ascensão canastrão que testa os limites do controle de Brooke. Já a equipe Shadowhunters, Matthew Daddario e Katherine McNamara, a Amy, que por sua vez, vai testar o controle de Owen, conseguem fazer um trabalho um pouco melhor.
De resto, o filme só vai ladeira abaixo, apresentando situações que só intoxicam a estória que, de outra maneira, tinha potencial para ser boa e emocionante. Do que adianta haver atores sexys em conjunturas “quentes”, se essas mesmas conjunturas não são bem desenvolvidas? Pelo contrário, o que existe basicamente é assédio, trapaça e toxicidade – moralismo à parte.
Portanto, ironicamente, ainda que a premissa do enredo desperte desejo no público, o que sobra de Traição e Desejo é a traição dessa estória para com a audiência, cujo sentimento final em relação a obra é a da mais pura decepção – mesmo que, repito, não haja como não ir até o final.
De outro lado, DeCubellis ainda é um principiante em longas-metragens e, embora seu segundo filme não seja satisfatório, existe potencial nele, caso queira dar continuidade à carreira de cineasta. E que assim seja!