Crítica de filme

Crítica | Entre o real e a ilusão em ‘Being the Ricardos’

Publicado 3 anos atrás
Nota do(a) autor(a): 3,8

O filme Being the Ricardos, disponível na Amazon Prime, traz a história do casal da sitcom dos anos 50 I Love, Lucy, Lucille Ball e Desi Arnaz, interpretados respectivamente por Nicole Kidman – cujo talento, ao ser escalada, foi colocado em dúvida – e Javier Bardem. Já a direção e o roteiro ficam por conta de Aaron Sorkin (Os 7 de Chicago). 

Apesar do talento claro e nato do diretor, algumas mudanças nos acontecimentos notórios em que se basearam o longa fazem com que o filme tenha pontos bem definidos – questões como o machismo e a realidade por trás das câmeras de Hollywood, assim como o declínio dos personagens e um clímax que deixou a desejar. 

A narrativa se molda ao conflito inicial do drama que Lucille percorre ao ser acusada de ser comunista em plena época de Guerra Fria, condição atrelada a uma semana mais intensa de produção do sitcom que, por sua vez, está em sua maior fase de audiência. 

Sendo assim, como parte do primeiro ato, a premissa é bastante animadora, mas é ao mostrar as questões mais profundas e pessoais de Lucille que o longa vai trazendo pontos que merecem ser ovacionados e, talvez, esse tenha sido o equívoco principal. 

Não podemos esquecer da década em que se passa toda história. Nos anos 50 ainda havia um longo caminho a percorrer para criar a autoridade que deveria recair sobre as mulheres empoderadas, determinadas a aprimorar seus talentos e trabalhando muito bem no que sabiam. Isso é o que acontece com Lucille Ball, representada como sendo bem detalhista, dedicada e ambiciosa. 

Contudo, o descarte de todo esse empoderamento foi explicitado ao colocarem Desi como seu salvador (mesmo que este não seja o rumo verdadeiro da história), quando ele declara a inocência da “amada” durante a apresentação do principal episódio no longa. 

Houve uma passada de tinta branca nos detalhes do relacionamento dos dois que, bem aproveitados, poderiam ter tido ainda mais força no background intenso da atriz e feito o telespectador pensar mais profundamente sobre orgulho, pensamentos machistas nas mídias e o empoderamento de Lucille. 

Um outro ponto que o diretor deixou escapar foi exatamente o retrato do nome do longa. Uma vez que para Lucille há essa distinção entre seu marido e o personagem dele na sitcom, é durante o próprio filme que ela assume que o sitcom tem poder sobre ela. Lucille então o agarra com força através dos sentimentos intrínsecos de um amor perfeito entre Lucy e Ricky – o qual se difere da realidade entre ela e Dasi. 

Entretanto, no longa, Lucille pede para a produção contratar seu marido em razão das oportunidades de trabalho que ele perdeu depois de se juntar ao exército na Segunda Guerra Mundial, sendo que na realidade, ela o queria sob sua mira e observação – por conta das inúmeras traições que ele cometia. Acredito que a realidade traria mais brilho à ideia do título.

Os cortes da realidade poderiam ter sido mais bem elaborados se fossem melhor pesquisados – e realmente fizeram falta para maior completude -, já que o clímax se permeia apenas nas acusações de Lucille, enquanto os escândalos sobre o relacionamento – os reais motivadores para grande parte da trama – foram descartados. Talvez o roteiro tenha sido cauteloso, mas sinto que no desenrolar da trama tais cortes fizeram muita falta, como já explicitado, consistindo no grande ponto fraco da trama.

No entanto, apesar das controvérsias, Being the Ricardos ganha força em seus pontos altos, consistentes na experiência de Lucille em meio a questões pessoais e profissionais que não a tornam menos brilhante. Gostei bastante da representação feminista da personagem, diferentemente dos seguimentos dos atos da história em si. 

Sobre atuações, ainda há o erro de produção em colocar “qualquer latino” para representar países latinos, escalando Javier Bardem, espanhol, para representar um cubano, Contudo, este detalhe não importou muito, uma vez que ator brilhou em seu papel, assim como Nicole Kidman. 

Defendo uma nota 3,8 para o filme. Faltou apenas uma pesquisa maior por parte da direção em colocar as tensões nos momentos certos e acertar na verossimilhança e nos itens fantasiosos da trama. 

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Being the Ricardos Poster
País: EUA
Direção: Aaron Sorkin
Roteiro: Aaron Sorkin
Idioma: Inglês

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